Emmanuel Macron foi a Pequim e levou um cavalo para oferecer a Xi Jinping.
É pouco provável que algum dia um qualquer escritor europeu replique “A Viagem do Elefante” de Saramago e escreva um romance sobre a “Viagem do Cavalo”.
Embora alguém dotado de alguma perspicácia possa descortinar similitudes entre a embaixada de D. João III a Viena e a viagem de Macron a Pequim, o bom senso obriga a reconhecer que os tempos são muito diferentes e a viagem, embora muito mais longa, foi feita de avião e com toda a gente a dormir – o que obrigaria a uma grande dose de imaginação para resumir as peripécias em meia dúzia de páginas.
É no entanto forçoso reconhecer que a viagem de Macron a Pequim revelou um grande sentido de oportunidade do presidente francês.
Aproveitando a indefinição governativa em Berlim e a incógnita do Brexit, Emmanuel Macron foi dizer a Xi Jinping que (pelo menos por agora) é ele o dono da bola europeia. Deu especial enfoque às questões ambientais- sem perder a oportunidade de mandar um remoque a Trump- e, obviamente, concretizou muitos negócios aproveitando a brecha aberta por vários países europeus( Alemanha incluída) com a questiúncula sobre a compra de empresas de sectores estratégicos por parte de empresas chinesas.
Macron não se limitou a conquistar pontos na área económica e diplomática. Procurou conquistar Pequim também através da estratégia dos afectos. Por isso apresentou “credenciais” falando em mandarim e divulgou mesmo um vídeo onde está a aprender a pronunciar as palavras em mandarim.
A oferta do cavalo insere-se nessa estratégia. Quando Xi Jinping visitou Paris, não se cansou de enaltecer os 104 cavalos que o escoltaram. Alguém tomou boa nota disso e transmitiu a Macron, que decidiu presentear o presidente chinês com um cavalo do corpo de elite francês. Nunca tinha sido feita uma oferta igual, mas Macron sabe como é importante para os chineses a linguagem dos afectos para “embrulhar” bons negócios.
Enquanto recebia o cavalo, ao líder chinês não terá escapado o olhar firme que Macron dirigia para Berlim em jeito de aviso a Merkel:
"Estou em Pequim a conquistar os chineses e, simultaneamente, em Roma, a reunir com os países do sul. A UE falará a uma só voz, mas acabou o tempo em que a Alemanha escrevia o discurso e os outros assinavam por baixo".