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Brighton (fotos Internet) |
No Verão de 1970 , a
pretexto de melhorar o inglês, fui com o meu irmão para Inglaterra, fazer um
daqueles cursos de férias então muito em voga.
O colégio ficava distante de Londres, mas relativamente perto
de uma praiazinha que na década de 60 era muito apreciada pelos jovens: Brighton.
Para quem há 10 anos se habituara a praias mediterrânicas,
Brighton era uma praia pouco apetecível, quase inóspita mas, em compensação,
muito animada.
Apesar de todos os alunos serem maiores de 18 anos, o regime
do colégio era pouco propício a saídas nocturnas.
É certo que havendo jovens de muitas nacionalidades, o tempo
passava de forma agradável, mas habituado que estava a fazer o que me apetecia
aos 20 anos, aquele regime de semi-internato provocava-me bichos carpinteiros.
Por outro lado, nem eu nem o meu irmão admitíamos regressar
a Portugal sem ir a Brighton, pelo que em conluio com uns amigos mexicanos
conseguimos “subornar” o porteiro e, por uma vez, pudemos regressar ao colégio
ás 11 da noite.
Um dia saímos no
final das aulas, como habitualmente, mas ficamos a jantar em Brighton e pudemos
ter um vislumbre do que seria a animação em Brighton. ( Mais tarde conseguiríamos
escapulir-nos diversas vezes e regressar ao colégio a tempo de tomar o pequeno
almoço, ficando suficientemente conhecedores dos )
Quando regressámos, o
meu irmão e eu, tínhamos uma inesperada
recepção. Dois jovens marroquinos e um argelino receberam-nos exuberantemente e
convidaram-nos para beber uma taça de champagne. Nenhum de nós estava a perceber
a razão dos festejos, pois a direção do
colégio não anunciara a comemoração de qualquer aniversário naquele dia. Perante
a nossa estupefação, os jovens magrebinos deram-nos a notícia de que Salazar
tinha morrido.
Eu exultei e bebi não só a minha taça de champagne, mas
também a do meu irmão que se retirou imediatamente para o quarto.
Quando, finalmente, me fui deitar, o meu irmão esperava-me e
deu-me uma bronca. Considerava inadmissível que eu tivesse celebrado a morte de
Salazar com uns “inimigos” de Portugal. Na opinião do meu saudoso irmão, que regressara da Guiné poucos meses antes, depois
de ter cumprido dois anos e meio de serviço militar em África, eu devia ter
manifestado consternação e mostrado o meu patriotismo.
Expliquei-lhe que não era patriota, que esperava sair de Portugal
muito em breve porque detestava o regime, a tacanhez de Salazar, a mesquinhez de Caetano, a javardice
da PIDE e a corja de fascistas que nos
governavam e me sufocavam.
Na altura não percebi que estava a ser extremamente injusto
com o meu irmão que estivera em África a defender o país com convicção. Só no
dia seguinte aquilatei a dimensão do meu erro que nos afastaria durante o resto
do Verão. ( Curiosamente, em Outubro, ele
foi viver para Inglaterra e iria convencer-me a seguir o mesmo caminho).
Apesar de ainda hoje ter familiares a viver em Brighton, só
uma vez lá voltei. Não posso por isso
dizer que Brighton foi uma das praias da minha vida, mas foi lá que se passou
um episódio marcante da minha existência.