Ontem, confessei as saudades que tenho do Outono.
Hoje é dia de fazer outra confissão: viver à beira mar é um privilégio para quem está reformado. Aqui apercebo-me da sucessão das estações do ano, porque cada uma delas tem efectivamente características bem marcantes de que nos vamos apercebendo dia após dia. Na cidade essa percepção é diferente e mais abrupta. Quando damos por nós dizemos "já estamos outra vez no Inverno!"
À beira mar, a debandada das pessoas, o encerramento de estabelecimentos e o desaparecimento de toldos e guarda sóis, deixando ver novamente o areal,anuncia a chegada do Outono.
Quando a força do mar obriga a criar dunas artificiais para evitar a invasão das águas, sabemos que estamos no Inverno. A felicidade de poder ver o mar alterar-se diariamente entre a fúria e a calmaria, atenua substancialmente as depressões invernosas.
Quando o paredão começa a ganhar outra vez vida, reabrem estabelecimentos e se pressente a azáfama das limpezas, é porque chegou a Primavera e se anuncia um novo ciclo. Que culminará com nova enchente nas praias, o reaparecimento de nadadores salvadores, dos toldos e das cores garridas ponteando o areal.
No campo, ainda que de forma diferente, a sucessão de estações também é sentida por quem lá vive mas na cidade as alterações climáticas e a forma de vestir são as duas sinaléticas que distinguem as estações. Pelo menos é assim que sinto o pulsar da vida nas cidades. E os meus caros leitores? Pensarão o mesmo, ou nem por isso?