Quando um vendedor ambulante tunisino se imolou pelo fogo
depois de a polícia lhe ter confiscado toda a fruta que vendia, gerou-se um
movimento global que culminaria com um coro do hossanas em defesa da Primavera
Árabe.
Os resultados catastróficos nos países que viveram essa
Primavera Redentora são conhecidos de todos.
Em dezembro de 2016, um pescador marroquino a quem a polícia confiscou o peixe, porque
estava em período de defeso da espécie, subiu para as traseiras do camião do
lixo, na tentativa de o recuperar.
Inadvertida, ou deliberadamente(?), o condutor do camião
ligou o compactador e o pescador foi
triturado. (O vídeo da tragédia está, ou pelo menos esteve, disponível na Internet).
Desde esse dia os protestos alastraram por todo o país,
incluindo a capital Rabat, multiplicam-se as greves do sector pesqueiro, os
tumultos não param de aumentar, levando à prisão o líder do movimento de
contestação.
Como aconteceu na Tunísia,
o processo evoluiu para questões políticas. O caso ocorrido no Rife já
não está no centro das atenções. O que agora os marrroquinos exigem é mais
democracia.
Curiosamente não vejo indignação nas redes sociais, nem
proclamações a favor de uma Primavera Árabe no reino de Marrocos.
Acredito que aqui não se aplica o ditado popular “ gato
escaldado de água fria tem medo”. O silêncio em volta da morte do pescador
Mouchine demonstra, no entanto, como é fácil manipular a opinião pública