O mais jovem presidente de sempre da República francesa terá os seus méritos.
A sua vitória acabou com a alternância entre republicanos e socialistas;
Aniquilou um PS sem ideologia, acomodado ao poder, submisso ao capital e aos mercados;
Travou a ascensão da extrema direita, remetendo-a a um plano secundário.
Devo dizer, porém, que desconfio bastante de Macron e da sua vertiginosa ascensão.
Por um lado, porque escolheu para primeiro ministro uma personagem ( Edouard Philippe) cuja biografia não é nada recomendável. Por outro, como a primeira volta das legislativas demonstrou, nunca houve tanto desinteresse pela política em França como depois da eleição de Macron.
Finalmente as quatro demissões de ministros num período de apenas 24 horas, acaba com o mito de que a falta de ética ( estou a ser simpático, eu sei...) não se esgota nos partidos tradicionais
Dir-se-á que Macron conseguiu afastar os receios que tínhamos da FN, reduzindo Le Pen a uma dimensão parlamentar praticamente residual. Totalmente de acordo. Devemos estar-lhe gratos por isso. Mas uma abstenção de quase 52% significa uma democracia gravemente doente, vulnerável a populismos oportunistas, porventura totalitários.
Também não pertenço ao grupo dos que defendem que a ideologia é que dá cabo da política e da democracia. Pelo contrário, acredito que só a ideologia a pode preservar.
Estou, por isso, muito reconhecido e grato a António Costa. Se não tivesse avançado contra Seguro e conseguido fazer a geringonça,em breve teríamos um Macron em Portugal, para gáudio de todos aqueles que consideram a ideologia uma excrescência absolutamente desnecessária.
Ter afastado da liderança do PS o sonso Seguro e ter conseguido construir a geringonça que nos tirou do poço sem fundo para onde Passos Coelho e a trupe de pafiosos nos tinham atirado merece a minha gratidão.
Tenham BE e PCP a sageza necessária para impedir que o PS resvale para a direita, sem colocar exigências impossíveis de satisfazer enquanto não estiver consolidada a recuperação económica e não for recuperada a credibilidade externa e, dentro de dois ou três anos, talvez tenhamos razões para sorrir.
Passos em falso, motivados por razões eleitoralistas poderão dar uma maioria absoluta ao PS e isso não seria uma boa notícia para os portugueses.