O incêndio de Pedrógão revelou, uma vez mais, duas faces bem distintas dos portugueses em situações de tragédia.
O lado bom é a generosidade e solidariedade ímpares a nível
europeu. Uma faceta que nos aproxima dos países do terceiro mundo e nos
distingue da maioria dos povos europeus. Os testemunhos dos estrangeiros a
viver na zona, manifestando o seu agradecimento, mas também a certeza de que
nos seus países não seria assim, são a
prova dessa singularidade.
Aliás, quem seguiu atentamente a onda de solidariedade que
se gerou em Londres, após o incêndio, pode constatar que ela partiu dos
portugueses e de comunidades imigrantes, nomeadamente asiáticas.
Mesmo a nível de governantes, compare-se a reacção do PR, pm
e membros do governo português, sempre presentes no teatro de operações, com a
passagem fugidia e enojada de Theresa
May pelo prédio ardido em Londres, onde não terá estado nenhum membro do seu
governo a inteirar-se da situação. Remeteram essa tarefa para os técnicos dos
seus gabinetes e serviços.
À excepção de alguns países escandinavos, quem sofre e é
pobre não merece a atenção de quem governa nos países anglo-saxónicos e
calvinistas do Norte e Centro da Europa.
A par da generosidade ou se preferirem, em oposição à solidariedade, o tuga tem um lado terrivelmente mau. Não será único,
mas manifesta-se de forma exacerbada em momentos de catástrofe.
A primeira reacção do tuga é
apontar o dedo acusador para
encontrar culpados. O tuga nunca é culpado de nada. A culpa é sempre dos outros,
particularmente de quem manda. Mas para além das acusações aos “engravatados do
governo que só cá vieram para passear”, foi particularmente doloroso ver os
tugas apontar o dedo aos bombeiros, acusando-os de nada fazerem, e à GNR que,
na opinião de muitos, só estava ali para atrapalhar.
Opinião contrastante com a dos cidadãos estrangeiros que não se cansaram de elogiar a actuação dos bombeiros e das autoridades.
Este contraste significa que falta mundo aos portugueses. Apesar de sermos um país com um elevado número de emigrantes, invejamos tudo o que se passa lá fora e denegrimos o que temos cá dentro.
Se compreendo a dor
de pessoas que tudo perderam no incêndio e a necessidade de encontrar culpados
por essa perda, já não aceito comportamento idêntico por parte de “mirones”
ávidos de uns segundos de fama diante dos microfones que jornalistas idiotas
lhes colocam à frente para acelerar a catarse.
Nestes dias assisti a momentos que me emocionaram, pela
genuinidade dos intérpretes, e a outros em que
a sede de acusar, não raramente induzida por jornalistas dos canais do
costume, quase se transformou em ódio.
Nesses momentos tomei um banho de realidade e fui obrigado a reconhecer
que somos intrinsecamente FEIOS, PORCOS e MAUS, mas inexcedivelmente bonzinhos perante a desgraça alheia.
Vá lá a gente tentar compreender-NOS, sem a ajuda da
psicanálise!