O lema das Conferências do Estoril é "Mudar o Mundo" e na sessão de abertura, Teresa Violante, presidente executiva das Conferências reforçou essa ideia ao afirmar:
" Estamos aqui para mudar o mundo e não queremos menos do que isso".
No entanto, ao cair o pano sobre o primeiro dia das Conferências do Estoril senti alguma decepção. Para não dizer mesmo frustração...
Especialmente centrado nos jovens era expectável ouvir dos oradores, neste primeiro dia, propostas inovadoras, mas o que se ouviu, maioritariamente, foi uma parafernália de lugares comuns:
-" Sigam a vossa paixão porque os conselhos que os nossos pais nos dão são sempre muito maus. Eles têm medo do risco e querem sempre que nós joguemos pelo seguro" (Carlos Moedas)
- "Vocês têm poder para pressionar os políticos" ( Bernard Kouchner, um dos fundadores dos Médicos Sem Fronteiras)
Convenhamos que há 50 anos, quando era jovem, já ouvia as mesmas palavras dos adultos.
Pese embora a emoção gerada na sala pelo discurso da jovem yazidi que conseguiu escapar ao cativeiro do Daesh, também ela não escapou a um lugar tão comum como polémico:
- "As pessoas são boas, mas são influenciadas pelo ambiente que as rodeia".
Coube ao indiano Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas ( vencedor do Nobel da Paz em 2007), a intervenção mais desafiante.
Pegando num tema que foi bandeira da minha geração ( a sustentabilidade), Pachauri desafiou os jovens a adoptar um novo comportamento enquanto consumidores, combatendo o desperdício e o hiperconsumo.
Diga-se em abono da verdade que um dos poucos legados positivos que a minha geração deixou aos vindouros, foi a criação de uma consciência cívica alicerçada na protecção do ambiente e no consumo sustentável. Merece por isso destaque que no meio de intervenções valorizadoras do hedonismo juvenil, Rajendra Pachauri tenha centrado a sua intervenção na necessidade de alterar os comportamentos individuais, para que seja possível mudar o comportamento colectivo.
Não era minha intenção escrever sobre as Conferências mas, face ao que ontem vi e ouvi e tendo em consideração que em 2018 Cascais será capital europeia da juventude, pareceu-me oportuno fazer este pequeno remoque, na expectativa de que haja um golpe de asa que permita, durante o próximo ano, colocar a discussão sobre a juventude a um nível mais elevado, mais projectado para o futuro e, acima de tudo, mais diversificado, evitando os lugares comuns e a centralização dos debates em torno das novas tecnologias. Sendo verdade que o futuro passa por elas, os jovens terão de saber ir para além delas, pois só assim terão sucesso na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.