" (...)o jornalismo, que devia ser, e já foi, uma referência em forma de caução, é a miséria que por aí se vê. Mais cedo do que tarde terá de proceder a um mea culpa; mas nem assim arredará as gravíssimas responsabilidades que lhe cabem no desrespeito geral.
Viver em conjunto precisa de conflito, de polémica, de emoção. E da construção de um elo plural, com valores que desenvolvam o sentimento de pertença e de diferença. Todos estes padrões têm sido desprezados, com proficiência, por políticos manifestamente de segunda ordem e por jornalistas de adiantada mediocridade, agigantado ego e gramática fugaz.
O escabroso espectáculo no Parlamento, fornecido por Mário Crespo, José Manuel Fernandes e Felícia Cabrita, tidos como apreciáveis jornalistas (enfim: a estimativa não é generalizada, bem pelo contrário) desacreditou, ainda mais, o já azarento ambiente em que vive a Imprensa(...)"
(Misérias portuguesas: Baptista Bastos, DN, 24 de Fevereiro de 2010)
Foi um dos maiores vultos do jornalismo do século XX e um escritor notável, que tratava as palavras com invulgar mestria.
Mestre da escrita, servidor do jornalismo, sem nunca se servir dele,muito me ensinou quando tive a honra de trabalhar com ele no semanário " O Ponto".
Tal como muitos outros jornalistas da "velha guarda" e rija têmpera, andava desiludido com o jornalismo e as suas relações espúrias com a política. Muitas vezes manifestou o seu desagrado em crónicas incisivas e mesmo truculentas. Como o demonstra o extracto que acima publico.
Nos últimos anos assumiu-se claramente mais com escritor, do que jornalista. Deixou-nos magníficos livros que, infelizmente, não tiveram a repercussão e divulgação merecida.
Não só pela fina qualidade da escrita, mas também pelas histórias que narrava, Baptista Bastos tem um lugar reservado na História da Literatura Portuguesa.
Foi com o BB escritor que "conheci" uma certa Lisboa e é com ele que frequentemente a percorro. Contada pelos seus dedos. Um magnífico livro de crónicas mas apenas um dos muitos que nos deixou, com a escrita burilada a que nos habituou.
Que descanses em paz, Mestre, Amigo e Camarada.