Rui Moreira, candidato "independente" à câmara do Porto com o apoio do CDS e do PS, não gostou que Ana Catarina Mendes, numa entrevista àquela coisa on line chamada Observador, tivesse dito que uma vitória de Rui Moreira seria também uma vitória do PS. Vai daí, reuniu o seu "staff" e decidiu prescindir do apoio dos socialistas.
À partida a reacção do autarca portuense parece absolutamente legítima. Ana Catarina Mendes comportou-se como uma "novata" da política ao reclamar os louros de uma vitória de Rui Moreira.
Só que nem sempre o que parece é.
Rui Moreira andava, há muito, incomodado com o apoio do PS, pois temia que lhe estivesse a retirar votos no seio da sua verdadeira família política- o CDS- e em franjas do eleitorado do PSD descontentes com a escolha do partido.
A entrevista de Ana Catarina Mendes caiu, assim, como "sopa no mel". Armou-se em duro - o que muito agrada à sua base de apoio- fingiu uma birra e demarcou-se do PS, mas manteve as pontes com o seu nº2 na autarquia, Manuel Pizarro. Com este jogo de cintura, Rui Moreira continua a piscar o olho aos eleitores socialistas, mantendo apenas equidistância em relação ao aparelho do Rato.
O futuro dirá se foi uma boa jogada de Rui Moreira, ou se com esta fictícia "birra" de menino mimado, terá hipotecado o seu futuro político, pautado de ambições que vão muito além da câmara do Porto.
No imediato, tudo dependerá da reacção do PS. Se os socialistas reagirem prontamente, Manuel Pizarro lhe retirar o apoio e o PS apresentar um candidato forte, capaz de impedir uma maioria PSD/CDS, Rui Moreira ficará em maus lençóis.
O presidente da câmara do Porto terá sobrevalorizado a sua imagem e não terá percebido que este ano será muito mais fácil ao PS apresentar um candidato mobilizador no Porto, do que foi em 2013 quando o partido estava enfraquecido. Além disso, as suas ambições políticas só serão concretizáveis com o apoio do PS, pelo que este arrufo lhe poderá custar caro no futuro.
Como acontece sempre nos divórcios, o PS também tem as suas culpas ( e não são poucas) neste i imbróglio. Ana Catarina Mendes foi desajeitada na entrevista ao "Observador" mas, verdade seja dita, as suas palavras reflectiram aquilo que o "aparelho" do PS pensa.
Na verdade, o apoio do PS a Rui Moreira foi um acto oportunista do qual o partido sempre pensou tirar dividendos. As candidaturas independentes só interessam nessa perspectiva.
No largo do Rato ( como na Santana à Lapa ou no Caldas) continua a olhar-se para o país, como se Lisboa fosse o seu cérebro e o resto um conjunto de ramificações que lhe devem obediência. Este centralismo retrógrado também está a contribuir para descredibilizar a democracia e a classe política.
É altura de todos perceberem que o país quer emancipar-se de Lisboa, porque está farto do centralismo (pouco) democrático que emana da capital.