Faz hoje 100 anos que os EUA declararam Guerra à Alemanha.
Um século depois, a Europa está a lamber as feridas provocadas pela incompetência dos seus actuais líderes.
Curiosamente, o ambiente na Europa está hoje mais desanuviado do que há uns meses, logo após a vitória do Brexit, mas sente-se muita apreensão pelo futuro próximo.
Se o choque do Brexit e as dissidências sobre imigração e refugiados fragilizaram Merkel e provocaram mossa na arrogância da Alemanha, retirando-lhe o ímpeto para controlar a Europa a seu bel-prazer, a verdade é que paira no ar uma grande incerteza quanto ao futuro.
Pensava-se, no início do ano, que os resultados das eleições francesas e alemãs seriam determinantes para o futuro da Europa. A maioria dos analistas asseverava que, chegado à Casa Branca e confrontado com a realidade, Trump seria obrigado a reconhecer a impossibilidade de concretizar as suas ideias de política internacional e a Europa nada teria a temer.
Quem fazia estas afirmações acreditava que a Europa ainda tinha um papel determinante na cena mundial, mas não era preciso ser muito perspicaz para perceber que nas duas últimas décadas perdeu influência no panorama mundial. Deixou de ser protagonista e passou a actor secundário.
O CR está prestes a cumprir 10 anos e um dos primeiros posts que aqui escrevi salientava, precisamente a irrelevância da Europa e a ascensão da China e da Índia no panorama internacional. Em 2010, escrevi mesmo um post com a minha perspectiva de como seria o século chinês.
A chegada de Trump à Casa Branca veio sublinhar isso mesmo. Os EUA olham para a Europa como um Continente irrelevante, porque está velho, à beira do extertor e, acima de tudo, cheio de vícios e incapaz de se adaptar aos novos tempos.
Dialogou com Theresa May como se Inglaterra não fosse um país europeu e recebeu Merkel com a arrogância dos imperadores.
Nessa perspectiva a cimeira entre os dois lideres mundiais, que decorre hoje e amanhã na Florida, é muito mais relevante para o futuro da UE do que as eleições em França e na Alemanha. Sendo quase certa a derrota de Le Pen em França e não havendo grandes diferenças ideológicas e estratégicas entre Merkel e Schulz, as eleições nestes países não terão tanta influência no futuro da EU, como se pensava há alguns meses.
Um século depois de os EUA terem declarado guerra à Alemanha, o futuro europeu está muito dependente do que se passar nestes dois dias em Mar- a-Lago. Voltarei ao tema nos próximos dias.