Há dias um câmara e um repórter da RTP, enviados a uma escola para fazer uma reportagem sobre um caso em que uma criança de 12 anos terá violado outra de 9, foram barbaramente espancados;
Quase todos os dias se registam agressões bárbaras a professores, perpetradas por alunos e seus pais;
São frequentes os ataques a polícias quando tentam fazer o seu trabalho.
São situações tão banalizadas, que a maioria das vezes são relatadas em notícia de pé de página, ou em rodapé de telejornal. No caso de haver uma morte ou um espancamento que deixe professor ou agente de autoridade em estado lastimável, pode acontecer que o assunto seja notícia durante um dia, mas depois passa à história.
No caso das bárbaras agressões a uma equipa de reportagem da RTP, além de um (quase) silêncio ensurdecedor na comunicação social e nas redes sociais, ainda assistimos a uma jornalista ( Estrela Serrano) que já foi dirigente da ERC e pertence actualmente ao Conselho de Opinião da RTP, reagir de forma tão compreensiva com os agressores, que só lhe faltou dizer que os jornalistas estavam mesmo a pedi-las.
Prezo muito Estrela Serrano, mas acho inadmissível a sua posição. Condenar a agressão, não é uma posição corporativa, é uma questão de civismo. Colocar a questão como Estrela Serrano a expõe no seu blog é demagogia pura e está em consonância com a sentença daquele juiz que considerou que o violador da turista tinha atenuantes, porque a maneira como ela ia trajada era provocatória.
Não nos preocupemos. A comunicação social afinal está atenta e preocupada com a violência mas... SÓ SE FOR NO FUTEBOL.
A agressão de um jogador do Canelas a um árbitro tem sido escalpelizada até à exaustão e o caso justifica-o. No entanto, mais do que estar preocupada com o árbitro, a comunicação social está empenhada em ligar essa acção ao facto de alguns jogadores do Canelas FC pertencerem à claque dos SuperDragões, que a imprensa e televisões ligam constantemente aos problemas de violência no futebol.
Eu sei que os Super Drgões não são nenhuns anjinhos. Mas sei, também, que apesar desta relação causa efeito ( muito glosada na comunicação social, especialmente nas televisões) ser bastante popular, é também bastante despropositada porque acicata os ódios clubistas.
A claque portista será pior do que a benfiquista? Lembro que foi uma claque do Benfica a única que matou um adepto de um clube rival e, além disso, alguns dos seus membros têm sido indiciados em diversos crimes. Ainda há poucas semanas, sete adeptos benfiquistas foram condenados por um tribunal de Paredes por ameaças e tentativas de agressão a árbitros, mas a comunicação social remeteu-se ao silêncio.
E que dizer do cadastro da Juve Leo? Ou da Força Verde?
Não há inocentes nem demónios. Há, outrossim, uma enorme falta de rigor na informação e uns critérios abstrusos, assentes no trinómio clubite/ partidarite/favorecimento que transformam o jornalismo numa vendetta
Por favor, não me venham com a treta de que a comunicação social noticia aquilo que as pessoas gostam de ouvir. Essa não é a função do jornalismo. O jornalista deve ser objectivo, dar notícias e não satisfazer clientelas. Infelizmente, foi esse erro de paralaxe que transformou o paradigma noticioso. Hoje em dia, ao fazer o alinhamento de um noticiário, ou editar um jornal, há mais preocupação em atrair a atenção dos espectadores/ouvintes/leitores do que em ser rigoroso nas notícias veiculadas.
No fundo, a comunicação social é o espelho de um povo mas, para sermos rigorosos, é preciso dizer que esse espelho foi laboriosamente fabricado pela comunicação social, quando começou a vender notícias como espectáculo.
Tudo quanto atrás escrevi não invalida, porém, o que ontem defendi sobre a agressão bárbara a um árbitro de futebol