A propósito do meu post "Geração R" recebi este comentário de um leitor ( médico psiquiatra) que é bastante esclarecedor e merece ser divulgado a todos os leitores. Assim, com o conhecimento do autor, transcrevo o comunicado e aproveito para agradecer aos atentos e colaborantes leitores que aportam a este Rochedo. Bem hajam!
"Este tipo de medicamento só pode ser adquirido com receita médica e é utilizado em crianças com Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA).
Sobre este tema há três grandes correntes na classe médica:
1 - a que utiliza metilfenidato com frequência exagerada e abusa do diagnóstico.
2 - a que utiliza o metilfenidato com mais contenção e diagnostica com critério mais fechado.
3 - a que rejeita qualquer tipo de medicação e põem reservas ao diagnóstico (escola ligada à psicanálise), defendendo o tratamento psicológico exclusivo.
Só quem tem um filho com essa doença sabe avaliar, com adequação, este problema.
Conheço famílias que se desfizeram, crianças que foram bombos da festa, que abandonaram a escola, por falta de diagnóstico e tratamentos correctos.
Para escrever este comentário conversei com uma amiga, médica especialista na área, reformada, que trabalhou mais de 30 anos na área do desenvolvimento e seguiu dezenas de casos, sendo muito criteriosa no diagnóstico, ela própria fazia e avaliava os vários testes necessários, (para os poder aplicar teve de tirar cursos específicos), e medicava de forma comedida, só a partir dos seis (6) anos.
Para se fazer o diagnóstico correcto é necessário que os professores e famílias preencham um questionário próprio, o médico faça a história clínica exaustiva, uma observação prolongada e vários testes específicos. Conjugando toda esta informação é que se chega ao diagnóstico.
O diagnóstico não se faz em 10 minutos de consulta.
Se for hiperactiva só na escola, ou só em casa, não pode ser diagnosticada de PHDA.
Muitas crianças irrequietas, mal-educadas ou mimadas poderão ser erradamente catalogadas.
Não calcula quanta melhoria na aprendizagem, na harmonia familiar e no bem-estar da criança se consegue quando correctamente ajudada.
Como em tudo, sensibilidade e bom senso são necessários.
Quanto a esse psiquiatra seria conveniente que ele tivesse dito a que escola pertencia...
Voltando aos pais que dão metilfenidato aos filhos de 2 ou 3 anos: isto é um profundo erro, mas pode ser fruto de ignorância, de facilitismo, ou de erro médico.
Em tempos, estes medicamentos só podiam ser receitados por Psiquiatras, Pediatras do Desenvolvimento e Neurologistas (Neuropediatras).
As receitas eram requisitadas em nome pessoal, ficavam registadas na DGS, e cada receita tinha uma cópia que ficava em poder do médico, para futuro controlo.
Presentemente qualquer médico os pode receitar, levando aos erros descritos.
Em última análise o erro também foi dos governantes que “liberalizaram” a prescrição destes medicamentos (e outros).
Declaração de interesses: sou psiquiatra de adultos, reformado, e nunca tratei crianças com PHDA. Segui clinicamente adultos com vida desestruturada, tendência a acidentes, consumos de drogas ilícitas (álcool e outras), mudança constante de empregos, comportamentos impulsivos, que tinham provável PHDA em criança.
Se tratados correctamente em devida altura, poderiam estes comportamentos ser grandemente minoradas ou inexistentes.
Não devemos esquecer que a medicina é uma ciência empírica, em constante evolução.
Hoje já podemos comer um ovo por dia, há uns 2 ou 3 anos era um por semana.
Amanhã como será?"