Marine Le Pen arrancou a campanha eleitoral sem subterfúgios nem tibiezas. Expôs claramente o seu programa e disse ao que vinha: abandonar a UE, substituir o euro pelo franco e fechar as fronteiras aos imigrantes.
Ficou claro que a vitória de Trump deu força à extrema direita europeia e que Le Pen, tal como Trump, cumprirá as promessas que faz.
Se ela vencer as eleições de 7 de Maio ( as sondagens dizem que será derrotada o que, a avaliar pelos erros clamorosos do referendo em Inglaterra e das presidenciais americanas, é um mau presságio) isso significará que as pessoas deixaram de acreditar na democracia.
Nesse dia, em vez de lamentarmos o voto dos franceses, penitenciemo-nos por termos sido incapazes de parar a tempo os desvios democráticos iniciados a nível europeu com Tony Blair, Aznar e Durão Barroso .
Quando a esquerda avisava que Tony Blair e a terceira via eram um embuste, a esquerda acomodada ( e os democratas em geral) andava embevecida com as facilidades do endividamento, as férias nas Caraíbas e as maravilhas das novas tecnologias. Por isso considerou esquerdistas e arruaceiros os que se insurgiram contra um modelo de globalização injusto, uma política ambiental desastrosa e um modelo de consumo insustentável, com todas as probabilidades de gerar uma guerra económica e até um conflito armado de consequências imprevisíveis.
Se em Março a extrema direita vencer as eleições na Holanda, será um sinal de perigo. Se Marine Le Pen vencer as presidenciais francesas, em Maio, será o fim da Europa e não haverá Merkel que a salve.
Nesse dia, em vez de acusarmos os eleitores de ignorância e analfabetismo, talvez seja altura de fazer uma reflexão e reconhecer que foi a incúria e desleixo de uma classe média aburguesada,que conduziu a Europa a este ponto.
A democracia é como as flores. Ou se rega todos os dias, ou acaba por morrer. E nós - reconheçamo-lo por uma vez- fomos jardineiros desleixados.