 |
Trinta anos após o acidente nuclear, esta pista de automóveis permanece como um dos muitos testemunhos de que um dia houve vida e alegria em Chernobyl |
Regresso hoje ao tema Almaraz.
Como acontece sempre com temas ambientais, a comunicação social trouxe o assunto à baila durante uns dias, mas depois deixou-o cair no esquecimento.
Dirão alguns que o assunto está encerrado, até que a UE tome uma decisão sobre a queixa apresentada por Portugal em Bruxelas. Não é verdade. A questão de Almaraz só terá um desfecho favorável a Portugal se as pessoas se mobilizarem. Mas só é possível mobilizar a opinião pública se as pessoas estiverem informadas sobre o perigo que representa para Portugal a manutenção da central para além de 2020, ou a construção do cemitério nuclear.
Os espanhóis gostam de varrer o lixo para cima de nós, em vez de o colocar nos locais apropriados. Foi assim com o Prestige, está a ser assim com Almaraz.
É preciso que as pessoas percebam que um acidente em Almaraz não afectará apenas zonas fronteiriças. Será um desastre para todo o país. A começar pelo Tejo que será contaminado e pode "morrer" durante décadas, com todas as consequências que isso acarreta. As terras também serão contaminadas, deixando de ser férteis durante décadas em todas as zonas afectadas e, finalmente, os ecossistemas sofrerão profundas alterações por via da extinção e metamorfose de inúmeras espécies.
Urge sensibilizar a opinião pública para que se mobilize contra a construção de um cemitério nuclear em Almaraz e exija o encerramento da central nuclear em 2020.
É URGENTE as pessoas perceberem que TODOS seremos afectados, no caso de haver um acidente em Almaraz.
Realce-se o papel da RTP na tentativa de esclarecimento dos cidadãos sobre a ameaça nuclear e temas ambientais que afectam o nosso futuro. Uma aposta que se tem intensificado nos últimos meses, com a série "Human", estreada em novembro, o documentário "Amanhã" e Café Chernobyl transmitidos este mês (Todos estão disponíveis on line gratuitamente)
Todos são de grande qualidade e rigor mas Café Chernobyl deixou-me perplexo.
O documentário/reportagem aborda a (inexistência de) vida em Chernobyl e Prypiat. Apesar dos elevados índices de radioatividade ( 50 vezes acima dos valores normais) e de a cidade de Prypiat ( onde está a central nuclear) ser uma cidade fantasma com restrições de acesso rigorosíssimas, há cada vez mais pessoas a pagar por uma excursão à zona de radiações.
O turismo para uma zona de alta perigosidade , onde se mantém o recolher obrigatório, está a ter um grande incremento, para satisfação de alguns ucranianos. Entre os quais um homem que apostou em abrir um hotel, restaurante e café para receber os turistas.
Enquanto via o documentário, fui frequentes vezes assaltado por esta pergunta:
- Se há pessoas que põem a vida em risco para ir a Chernobyl, sabendo o perigo que correm, como se pode esperar que os portugueses, que em maioria olham para Almaraz como algo distante, tenham consciência dos perigos que nos afectam?