Tinha prometido a mim mesmo, após a morte de Mário Soares, só escrever um post a agradecer-lhe. Escrevi-o no sábado, logo que soube a notícia.
Entretanto, o que nas horas e dias seguintes fui lendo nas redes sociais provocou-me tamanha indignação, que não cumpri. Gente que escreveu comentários insultuosos na página de FB de João Soares, ou que escreveu no livro de condolências “ Já vais tarde” provocou-me enorme repulsa e decidi responder “à letra”.
Fiz mal. Reagi como um daqueles energúmenos que escrevem no "Blasfémias"
Tenho a certeza que Mário Soares seria o primeiro a criticar algumas coisas que escrevi, mas eu nunca tive a sua sabedoria, nem fui ungido com a sua tolerância.
Agora, mais a frio, reconheço que talvez me tenha excedido em algumas palavras, mas resta-me a consolação de não ter banido do FB pessoas que, sendo "amigas" me surpreenderam pela sua incapacidade em reconhecer a felicidade de Portugal ter tido um político como Mário Soares, depois do 25 de Abril.
Uma cena a que ontem assisti num dos canais de televisão, obriga-me a escrever um último post sobre Mário Soares.
Entre muitas pessoas vindas de diversos pontos do país para prestar um último tributo a Mário Soares, a jornalista interpelou uma septuagenária de Famalicão, pedindo-lhe que lhe explicasse as razões de ter vindo de tão longe
Adelina não se fez rogada. Começou por declarar a sua gratidão a Mário Soares e rematou desta forma exemplar:
“Eu tinha 35 anos no 25 de Abril. Os pais que expliquem aos filhos quem ele foi e como vivíamos antes do 25 de Abril
Nós, crianças, éramos obrigadas a trabalhar. Se os jovens de hoje tivessem conhecido aqueles tempos, saberiam que vivem no paraíso”.
Esta declaração de Adelina emocionou-me, também pela credulidade. Ela acredita que homens e mulheres, hoje com 40 e 50 anos, que desconhecem o que foi o Estado Novo, reproduzem barbaridades sobre Soares que ouviram nas redes sociais e lamentam a perda das colónias ensinem aos filhos quem foi Mário Soares.
Já muito bom seria que a escola o fizesse com a isenção requerida mas, pelo que tenho visto,nem isso é possível. É que há professores cuja interpretação do 25 de Abril roça a ignorância e a indigência intelectual.