Um argelino foi detido pelo SEF no aeroporto Humberto Delgado, por suspeita de se tratar de (mais) um caso de imigração ilegal.
Passadas algumas horas pediu a um inspector autorização para ir fumar um cigarro. Autorizado, ludibriou a segurança, atravessou toda a zona internacional, passou a fronteira sem ter sido interceptado, saiu calmamente pela porta principal do aeroporto e foi à vida. O caso ocorreu em Outubro e até hoje ninguém mais lhe pôs a vista em cima.
A ministra da Administração Interna, por seu turno, só veio a saber da fuga pela imprensa
A primeira ilacção a tirar deste caso é que a segurança no aeroporto de Lisboa ( creio poder dizer-se em quase todos os aeroportos europeus) é ridícula. Sujeitam os passageiros àquelas cenas parvas em que lhes confiscam isqueiros, frascos de perfume e até medicamentos, mas a segurança é impotente ( ou tolerante?) para detectar um tipo que atravessa toda uma zona reservada e (pretensamente) sob apertada vigilância. No mínimo, é estranho.
Outra ilação a tirar é que este país de brandos costumes não tem emenda. Deixa-se um detido ir fumar um cigarro sem qualquer controlo, porque se acredita na sua boa fé. Nem por um segundo terá passado pela cabeça do inspector que o homem poderia estar a tentar evadir-se. E se cá fora ele tivesse um cúmplice, eventualmente armado, e em conjunto atacassem passageiros inocentes? O inspector terá pensado como aquele pai que leva o filho no banco de traz sem cinto de segurança, porque os azares só acontecem aos outros. Uma forma muito própria de pensar e agir do tuga.
Se tivesse havido azar, de certeza que a história nos teria sido contada noutra versão. Uma fuga idêntica à dos argelinos e marroquinos durante o Verão, por exemplo. Essas versões resultam sempre, porque a comunicação social larga o osso ao fim de alguns dias e tudo se esquece rapidamente.
Finalmente, constata-se que no SEF ( se fosse só no SEF ainda vá lá...) todos procuraram abafar a notícia. Toda a hierarquia, incluindo a directora-geral, sabia da ocorrência, mas ninguém comunicou à ministra, obrigando-a a fazer figura de totó perante os deputados.
Depois de ter tomado conhecimento do sucedido, através de uma notícia do DN, Constança Urbano de Sousa pediu explicações ao SEF.
Resposta: o inspector não deu, em momento algum, autorização ao argelino para sair da zona internacional, onde estava detido.
Espero que a ministra tenha mão pesada, porque em causa está a nossa segurança. Não podemos confiar numa polícia que fiscaliza aeroportos, como se estivesse a vigiar um jardim infantil. Partindo do princípio que ninguém foi subornado para facilitar a fuga, as responsabilidades têm de ser atribuídas a todos os implicados neste processo. Incluindo a directora -geral que escondeu o caso da ministra.
Só que neste país de brandos costumes, o mais provável é ficar tudo na mesma. Pelo menos até ao dia em que haja um atentado sério em Portugal. E, a avaliar pelo número de fugas no aeroporto de Lisboa só este ano, bem se pode dizer que as polícias estão a envidar todos os esforços para que isso aconteça.