Ontem tive de ir a Lisboa a uma consulta ao hospital. Como me esqueci de levar um livro para aliviar o tempo de espera e a consulta estava demorada, comprei um jornal. Optei pelo DN, cujo conteúdo me pareceu mais apelativo.
Logo na página 2, ao ler um artigo sobre momentos quentes de meses de Agosto passados, tive de dar azo à minha indignação. É que, a propósito do "Verão quente" de 1975, o jornalista escreve:
" A 18 ( nde: de Agosto) num discurso em Almada que ficou tristemente célebre, Vasco Gonçalves fez a apologia (...)".
Não sei se o autor do texto se esqueceu que é jornalista, se pensava estar a escrever num blog e não no jornal, ou esqueceu um princípio básico do jornalismo: numa notícia o jornalista não dá opinião, nem faz juízos de valor. Limita-se a relatar factos.
A que propósito, com que legitimidade, João Ferreira classifica o discurso de Vasco Gonçalves de tristemente célebre? Pode ser essa a sua opinião e tem todo o direito de a exprimir nas redes sociais ou no seu círculo de amigos, mas não a pode expressar numa noticia de jornal. Isso fica reservado aos comentadores e aos artigos de opinião.
Infelizmente, este é apenas um dos muitos exemplos do jornalismo tendencioso e tendencialmente manipulador que se vai fazendo em Portugal e um pouco por todo o mundo.
Não conheço João Ferreira, não sei a sua idade, nem tampouco se assistiu ao discurso de Vasco Gonçalves mas se ouviu e tem opinião, deve guardá-la para si, para a família e amigos. Se não assistiu ao discurso e se limitou a reproduzir o que leu ou ouviu a outros, então devia ter esclarecido os leitores desse facto. O que nenhum jornalista pode fazer é vender opinião como se fosse notícia. Infelizmente, porém, essa regra parece cada vez mais esquecida e nem os editores são capazes de a lembrar aos jornalistas.