No início do ano, a RTP exibiu a série TERAPIA. A acção decorre no gabinete de um psicólogo que, em cada dia (fixo) da semana, recebe um paciente.
Um desses pacientes era um atirador especial que, durante um assalto a um banco, procurou evitar a morte de reféns, abatendo o assaltante mas, acidentalmente, matou também uma criança.
Durante as semanas de terapia, o agente insiste com o psicólogo que não tem quaisquer remorsos por ter matado a criança, pois cumprira a sua missão ao matar o criminoso e não tinha culpa do ricochete da bala que vitimara a criança.
O seu principal e repetido argumento era ter sido treinado para matar e ser para isso que lhe pagam.
Quando a série estava a ser exibida na RTP fui ver "American Sniper" e comparei o filme ao agente de "Terapia". Entre os dois há um propósito comum: cumprir uma missão para a qual são pagos. O facto de o alvo ser um ser humano é completamente indiferente para ambos.
Lembrei-me da série e do filme a propósito das discussões que andam por aí sobre a barbárie dos terroristas. Muitos perguntam como é possível matar inocentes. Outros garantem que são gente perversa, com desequilíbrios mentais, ou fanáticos, porque gente normal não seria capaz de praticar tais crimes.
Permito-me discordar de quem assim pensa. Os terroristas que atacaram o Bataclan e o Charlie Hebdo têm o mesmo esquema mental do Sniper ou do atirador especial. Nenhum deles, quando dispara, vê pessoas humanas. Vê apenas alvos. Iguais àqueles dos jogos da Play Station.
A única diferença é que o sniper e o atirador são pagos para matar, enquanto os terroristas do Daesh matam por ideologia, convicção e... FÉ!
Todos estão a cumprir uma missão. Mesmo que em alguns casos possa ser uma missão divina, recompensada com o Paraíso e umas dezenas de Virgens, após a morte. Ou seja, enquanto Sniper e agente são pagos a pronto, em cash, os terroristas do Daesh matam a crédito.