O caso de uma emigrante portuguesa em Inglaterra, a quem foi
retirada pelos serviços sociais de Sua Majestade uma criança com nove dias de
vida, imediatamente entregue para adopção, trouxe-me de imediato à memória os
tempos da ditadura argentina, em que mães eram raptadas pelos militares e
separadas dos filhos à nascença, sendo posteriormente entregues a famílias
abastadas com influência junto do poder.
Mas como foi em Inglaterra que o caso se passou e por estes dias o caso Maddie , voltou a ser notícia, resisti à tentação da comparação e centro-me no que se passa em Inglaterra com a adopção.
Lembro que na altura muita
gente opinou que os pais eram irresponsáveis e sentenciou como pena aplicável a
tanta negligência a retirada dos restantes irmãos da tutela do casal Mc Cann.
Tive oportunidade de reagir- um pouco à bruta como é meu
hábito- contra os que decretavam tal
sentença mas, anos volvidos e perante o caso da criança com 9 dias retirada
pelos serviços sociais a uma emigrante portuguesa em Inglaterra, estou em vias
de dar razão aos mais virulentos na análise do caso Maddie. Se a lei, em Inglaterra, fosse aplicada de
igual modo a imigrantes e súbditos próximos dos primeiros ministros britânicos, os Mc Cann neste momento não
teriam qualquer filho à sua guarda. Mas – todos sabemos- seja em Inglaterra, em
Portugal ou na China, a lei é iníqua e mais pesada para quem trabalha e não tem
relações privilegiadas com o poder.
É verdade que a mãe da criança portuguesa entregue para adopção pelas autoridades de Sua Majestade violou a lei inglesa ao
recusar abrir a porta à polícia e ao médico. Igualmente verdade é o pai já andar debaixo de
olho das autoridades, por causa de uns produtos que vendia na Internet,
mas… retirar uma criança com 9 dias da
tutela da mãe e entregá-la para adopção é defender os interesses da criança?
Qualquer pessoa de bom senso sabe que não portanto, o
importante é perceber a razão porque nos vendem essa ideia. A resposta parece
demasiado simples, quando analisamos os números:
- Todos os anos, em Inglaterra, cerca de 700 mil crianças
são retiradas aos pais e entregues para a adopção;
- Entre 15 a 25 por cento destas crianças são filhas de
casais imigrantes;
- O governo britânico gasta anualmente cerca de 2 biliões de libras com instituições de
adopção e famílias de acolhimento;
- As famílias de acolhimento recebem cerca de 600€ semanais,
por cada criança que acolhem.
Creio não restarem dúvidas sobre o negócio que está por detrás da adopção mas, atenção,
porque dizem os especialistas que não é um negócio que se limite a terras de
Sua Majestade. É um negócio em grande expansão que, inclusivamente, já terá
chegado a Portugal.
E já que falo em Portugal, urge perguntar:
- A criança retirada à mãe portuguesa terá nacionalidade
inglesa, portuguesa, ou ambas? Não poderão as autoridades portuguesas intervir
para resgatar a criança? Mas, mesmo que isso seja possível, que males
irreversíveis terão já sido causados à criança, quando houver uma decisão
judicial?
Palpita-me que entre o negócio da adopção que floresce na democrática
Inglaterra e as adopções forçadas durante a ditadura militar Argentina, as
diferenças residem na moeda. Mas é extremamente preocupante que se invoque a
democracia para legitimar um negócio imoral.