No número 145 da Rua de Santa Catarina, mesmo ao lado do Grande Hotel do Porto que por aqui passou no último domingo, abriu em 1883 a Camisaria Confiança. Este modesto estabelecimento viria a tornar-se um requintado ponto de encontro dos portuenses e um nome indissociável da história da cidade..
Nos anos 60 do século passado era vulgar marcar encontro à porta da "Confiança" , ponto de partida para um périplo pela Baixa da cidade do Porto. À época, já a "Confiança" era um nome intimamente ligado à história da cidade. Mas não nos adiantemos...
Quando abriu a Camisaria Confiança, o industrial António Cunha e Silva não pretendia apenas vender camisas. Conhecedor do ramo, era seu objectivo criar uma indústria capaz de abastecer o mercado nacional e estrangeiro, especialmente o Brasil, mas também com um olho nas "colónias".
Foi assim que, adquirindo terrenos anexos ( entre os quais o edifício do Teatro Santa Catarina) o empresário ampliou as instalações e abriu, em 1894, a Fábrica Confiança. Equipada com mais de uma centena de máquinas, a Fábrica dava emprego a mais de mil mulheres.
A sua dimensão e o movimento por ela gerado, despertou a atenção de Aurélio Paz dos Reis. Em 1896, este comerciante realizou e produziu o primeiro filme português. Intitulado " A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança", este pequeno documentário de apenas 1minuto ( veja aqui) era uma réplica do filme dos irmãos Lumière e viria a ser exibido pela primeira vez no dia 12 de Novembro de 1896 no Teatro do Príncipe Real, actualmente denominado Teatro Sá da Bandeira.
No início do século XX a Camisaria e Fábrica Confiança já tinham cimentado o seu nome a nível internacional e, em 1907, abriu uma sucursal em Lisboa, na esquina da Rua Augusta com a Rua da Betesga. Foi também no início do século ( 1903) que trabalhou na Camisaria Confiança durante algum tempo, como caixeiro, um amarantino que viria a tornar-se num dos mais famosos pintores portugueses: Amadeo de Souza Cardoso.
Foi ainda nas instalações da Fábrica Confiança que funcionou durante muitos anos o Teatro Experimental do Porto.
A Camisaria Confiança foi acompanhando a evolução dos tempos e, nos anos 60, era um estabelecimento multifacetado, onde as noivas compravam o enxoval e, posteriormente, as roupas para os filhos porque na "Confiança", de roupa branca se vestiam desde os avós até aos bebés.
Era, então, ponto de encontro obrigatório, conhecido como o "El Corte Inglês" tripeiro. Além das secções do espaço comercial, despontava no primeiro andar um salão de chá de grande qualidade que se tornou moda e rivalizou com conceituadas casas de chá da baixa como a Arcádia, Ateneia, Costa Moreira ou Confeitaria do Bolhão.
Não assisti ao desaparecimento da Camisaria Confiança nem consegui, nas minhas pesquisas, determinar a data exacta do seu encerramento. De momento, também não sei que estabelecimento está ali instalado. Se alguém me puder ajudar nestas tarefas, agradeço.