Há por aí muita gente indignada com estes resultados e até eu talvez esteja um bocadinho, pois a minha primeira reacção foi desejar metê-los numa máquina do tempo e obrigá-los a viver nesse tempo, para ver se mantinham a mesma opinião.
Muitos dos mais velhos talvez não se importassem com a Censura, nem com a PIDE, nem com a guerra colonial, nem com a pobreza, mas gostava de saber como é que velhos e novos iam resistir a viver sem telemóvel, sem máquina de lavar roupa e louça, sem frigorífico nem uma parafernália de merdas inúteis que só servem para dar status, sem viagens às Caraíbas, sem pelo menos dois carros por agregado familiar e sem fazer zapping sentados no sofá, porque naquele tempo só havia dois canais de televisão públicos e a televisão era a preto e branco.
Quanto às mulheres - a maioria da população portuguesa - deveriam adorar regressar ao tempo em que não podiam sair do país sem autorização do marido, aceitar que o marido lhes violasse a correspondência, ter o acesso ao mercado de trabalho limitado, ou ver os filhos partirem para a guerra em África sem saber se os voltariam a ver.
Recomendo por isso aos quase 5 milhões de portugueses que acreditam que antes do 25 de Abril é que era bom, que se metam na máquina do tempo e vão recordar ( ou experimentar pela primeira vez) como era a vida no tempo do Botas e do pai do Marcelo que quer ir viver para o palácio de Belém e era afilhado do outro Marcelo do Ca(e)tano que também dormia pouco e adorava "Conversas em Família", porque naquele tempo não havia comentadores.
Bora lá experimentar?
*AVISO: Este estudo é de 2011 e a ele fiz referência nessa altura, mas pareceu-me oportuno relembra-lo, em vésperas de eleições presidenciais. Et pour cause...