 |
Foto da NET |
O turismo foi sempre apresentado por este governo como um dos pilares do desenvolvimento económico do país.
Há que reconhecer algum mérito na promoção feita por este governo, embora o aumento do turismo não se deva exclusivamente à sua acção. Quer as autarquias, quer a iniciativa privada, através da promoção de eventos destinados a target groups, contribuíram de forma decisiva para esse crescimento.
Quando António Costa anunciou a criação da taxa de 1€ para os turistas que visitem Lisboa ( medida já seguida em muitas cidades europeias, que em não raros casos incluem taxas hoteleiras) o governo reagiu enfurecido pela voz do ministro da economia e do ministro de coisa nenhuma Paulo Portas. As cabeças tontas da agremiação azul e amarela não perceberam o alcance da decisão camarária, acusando António Costa de estar a destruir o turismo e a "matar a galinha dos ovos de ouro".
Moreira da Silva, ministro do ambiente, obviamente que percebeu a importância da taxa como forma de garantir a sustentabilidade da cidade, degradada pelos efeitos perniciosos de um turismo de massas que a maioria dos governantes ignora ( ou finge ignorar), porque o mais importante é encher os cofres com as receitas do turismo. No entanto, como soldado disciplinado, ou simplesmente por cobardia, Moreira da Silva calou-se. Os partidos da oposição seguiram-lhe o exemplo. A comunicação social, por ser acéfala ou estar comprometida e veiculada aos interesses do governo, enfileirou no coro das críticas a António Costa.
Ninguém estava interessado em analisar os impactos negativos de um turismo a crescer sem regras, nomeadamente sob o ponto de vista ambiental, mas também em faixas da população irremediavelmente afectada, por não poder usufruir das vantagens do turismo, ou por ser por ele prejudicada. O impacto negativo do turismo de massas é conhecido há décadas. Seja na orla litoral, nas montanhas, no interior, ou nas áreas urbanas, o crescimento do turismo de massas tem um custo elevado para a qualidade de vida das populações. Mas disso ninguém quis saber e o bacoco ministro da economia, coadjuvado pela inutilidade Portas, apenas pensaram nos lucros e descuraram as medidas necessárias para atenuar os efeitos perversos. E nem precisavam de ler livros, ou estudar. Bastava-lhes ver uma telenovela brasileira dos anos 80 ( creio que Tieta do Agreste) para perceberem que o turismo não traz apenas riqueza. Consigo vêm também dramas sociais, degradação e pobreza.
Eis senão quando...
A população de Lisboa começa a olhar para a "invasão" dos turistas como uma praga. Como é habitual, depois dos momentos de fascínio, acordaram e viram o reverso da medalha. Daí até conseguirem ter eco nos jornais, foi um pequeno passo. Hoje, o "Público" abriu as hostilidades acolhendo nas suas páginas as queixas dos lisboetas. Em minha opinião fez bem, mas não se devia limitar a reproduzir opiniões, como faz neste artigo onde a Câmara Municipal de Lisboa é o bombo da festa, acusada de não ter preparado a cidade para a vaga de turismo.
Deveria o "Público" - até porque tem bons jornalistas nesta área- ter aproveitado a oportunidade para esclarecer os leitores sobre a importância da taxa que António Costa criou e também explicar o reverso da medalha do boom turístico nacional. Não só nas cidades, mas também no interior cada vez mais procurado por turistas. É que se queremos turismo, não podemos ter o melhor dos dois mundos. Temos também que arcar com as consequências e as responsabilidades devem ser divididas por todos.
Assim, o artigo é apenas um libelo acusatório. Injusto, infundado e desprezível.