Passos Coelho indignou-se porque a oposição reagiu mal à rábula de Maria Luís Albuquerque sobre os cofres cheios.
Não me espanta. Para além de ser bonita esta cumplicidade entre professora e aluno, é louvável que Passos reconheça que mais vale ser caloteiro do que ter os cofres vazios.
Gostaria, no entanto, de perguntar a PPC como reagiria ele se tivesse emprestado uma determinada quantia a um amigo, com a promessa de que lhe seria devolvida três anos depois.
Se, volvido esse prazo, Passos Coelho fosse reclamar a devolução do dinheiro, reagiria com um aplauso concordante se o amigo lhe dissesse Eh pá, agora não posso pagar. Tenho o cofre cheio de dinheiro, mas está guardado para alguma eventualidade. (?)
Ora foi isso que o governo fez aos portugueses, com a diferença de que não pediu dinheiro emprestado. Roubou-o, como qualquer meliante protegido pela polícia. E fê-lo com requintes de malvadez.
Começou por cativar a simpatia dos tugas, prometendo que não vinha roubar mas apenas proteger os seus cofres. Assim que se viu diante do pote, apontou-lhes a arma e disse:
- “Desamparem a loja, ponham-se a milhas. Aos que insistirem em ficar, vou roubar o 13º mês, o subsídio de férias e uma percentagem dos salários”.
Muitos partiram. Outros submeteram-se às exigências do ladrão, que entretanto lhes prometeu que devolveria o dinheiro no prazo de três anos, depois de resolver uns problemas de liquidez. Outros ainda foram liminarmente expulsos, ficando dependentes da solidariedade de algumas instituições.
Ao fim de quatro anos, Passos Coelho diz-lhes:
“ Eh pá, tenho os cofres cheios, mas preciso do dinheiro para qualquer eventualidade. Os tipos a quem prometi que só roubaria durante três anos que se desenrasquem.”
Passos Coelho nunca perceberá que está a roubar os portugueses, enquanto assume dívidas de bancos e de empresários que mais tarde ou mais cedo terão de ser pagos pelos contribuintes.
É normal. A maioria dos ladrões, caloteiros e trafulhas, nunca reconhecem a sua condição e encontram sempre razões que a justifiquem. Passos Coelho e a professora têm as suas.
Eu também tenho sobejas razões para não acreditar nele e reagir à pesporrência do homem que me assaltou o cofre. Na impossibilidade de lhe dar o que merece, vou socorrer-me da única arma que tenho: a do voto.
Lamento é que muitos portugueses prefiram dar-lhe uma segunda oportunidade, para ver se se redime. Desenganem-se. PPC não tem remissão. Há-de morrer assim.
Em tempo: Aviso aos comentadores anónimos que vêm para aqui comparar este roubo com o caso Sócrates. Não misturem o que não se pode misturar. Ao que sei, até agora, as suspeitas que pendem sobre Sócrates restringem-se à sua esfera privada e não afectaram a minha vida pessoal. Pelo menos, não me apercebi que as minhas poupanças tivessem levado um rombo.
Já de Passos Coelho posso dizer que, além de não cumprir os seus deveres contributivos e fiscais, me roubou alguns milhares de euros durante estes quatro anos.