O governo fartou-se de despedir funcionários públicos , alegando que havia gente a mais a trabalhar no Estado. Rapidamente muitos serviços caíram num caos jamais visto. Como sempre, os cidadãos são os mais prejudicados, vendo a sua relação com o Estado deteriorar-se. Esperas prolongadas, atrasos no cumprimento dos deveres do Estado para com os cidadãos que, não raras vezes, têm resultado em altercações e violência física sobre funcionários de front desk indefesos.
Um dos casos de incumprimento do Estado que nos últimos meses tem sido mais badalado é o das cartas de condução. Há pessoas que esperam mais de um ano pela renovação ( eu tenho sido considerado um sortudo no meu círculo de amigos porque recebi a carta ao fim de nove meses), quando anteriormente o tempo de espera raramente atingia os três meses.
Pode argumentar-se que os condutores não são prejudicados, porque têm uma guia de substituição. Não é verdade. Quem se quiser ausentar para o estrangeiro, conduzindo uma viatura, terá de adquirir uma carta internacional que custa até 30€. Creio que entre os 280 mil condutores que estão à espera da carta, não serei o único espoliado , por negligência do Estado...
A ressonância do que se está a passar no IMT – há dias em que as filas começam às duas da manhã- teve mais impacto do que outros casos igualmente atentatórios dos direitos dos cidadãos, provocados pelos cortes cegos de pessoal na administração pública.
Depois de o presidente do IMT vir justificar o atraso com a desculpa esfarrapada de que o atraso se deve, na maioria dos casos, à falta de qualidade das fotografias entregues pelos condutores, o governo decidiu tomar anunciar medidas. Estamos em ano de eleições e é preciso acautelar uma eventual derrota.
Se em alguns casos de que tenho conhecimento, o governo decidiu contratar tarefeiros a empresas de trabalho temporário, no caso do IMT optou por outra estratégia. Os funcionários passam a ser obrigados a trabalhar ao sábado e, durante a semana, mais do que as oito horas diárias.
Como os funcionários não se podem recusar a prestar esse trabalho, sob pena de serem alvo de processos disciplinares que poderão culminar em sanções pesadas, pode dizer-se que estamos quase, quase, a regressar à escravatura. é só baixar um bocadinho mais as calças perante as arbitrariedades da governança.