Anda toda a gente muito entretida a discutir o prefácio dos Roteiros, em que Cavaco Silva mostra a sua faceta de alfaiate (não do Panamá, mas de Boliqueime).
Por uma vez, sem exemplo, vou recorrer a Eduardo Catroga para exprimir o meu desacordo com o alvoroço gerado em torno do perfil presidencial traçado por Cavaco. Discutir qualquer coisa escrita ou dita pelo inquilino de Belém não interessa absolutamente nada. Isso são “pintelhos”.
O descrédito de Cavaco no país é tal, que a importância das suas palavras é equiparável ao discurso desconchavado de um idoso em fase demencial, perante a fotografia uma boazona nas páginas da Playboy. O idoso dirá aberta e convictamente “comia-te toda”, mas toda a gente sabe que o homem já nem com Viagra lá vai, por isso espantar-se-á ao ouvir as gargalhadas de escárnio e/ou complacência dos que o rodeiam.
Devo reconhecer que o assessor que lhe debitou o discurso foi hábil. Era preciso criar uma boa polémica, para que o país se distraísse e esquecesse as dívidas contributivas de Passos Coelho, a política assassina deste governo e o estado comatoso em que se encontra o país, a caminho de um novo resgate que, na opinião de alguns economistas, poderá chegar mais cedo do que se espera.
Não nos deixemos enganar. Centremo-nos na discussão do que é importante para o futuro do país e deixemos Cavaco entregue aos seus delírios. Sem nos rirmos, mas com a complacência que devemos ter por quem já não enxerga as suas limitações.