Nunca tive grandes dúvidas sobre as motivações de Carlos Alexandre e Rosário Teixeira, quando decretaram a prisão preventiva de Sócrates: humilhá-lo e exibi-lo à opinião pública como trofeú que avalizasse o bom funcionamento da justiça. (Ainda estou para perceber se em matéria de troféus foram Carlos Alexandre e Rosário Teixeira a aprender com Maria Luís Albuquerque e Passos Coelho, ou o contrário, mas isso agora pouco importa).
Por outro lado, a credibilidade da ministra estava de rastos depois do Citius e da reforma(?) da justiça. A contestação dos advogados, funcionários judiciais, procuradores e alguns juizes à actuação de Paula Teixeira da Cruz não parava de aumentar, mas a promessa de um aumento dos salários dos juízes merecia uma recompensa. Afinal não tinha sido a ministra a dizer que a impunidade tinha acabado? Carlos Alexandre estava disposto a demonstrá-lo e, sem qualquer relutância, terá escrito que se a prisão preventiva pecava, era por defeito. ( Não explicitou o juiz qual a medida que considerava justa, mas isso agora também não interessa nada)
Quando a advogada de Carlos Santos Silva escreveu um artigo demolidor no Boletim da Ordem dos Advogados, em que põe a nu as irregularidades e arbitrariedades na detenção de Sócrates ( recordo que esteve 5 dias sem direito a tomar banho ou mudar de roupa) não merecendo qualquer reacção dos visados, tornou-se para mim ainda mais claro que havia outros objectivos na prisão de Sócrates. Responder ao artigo poderia levantar ondas e isso não convinha minimamente aos interesses da acusação.
Mas se dúvidas ainda me restassem, a entrevista de Maria José Morgado dissipou-as. Toda a gente percebeu que as fugas de informação são selectivas, canalizadas sempre para os mesmos meios de comunicação social que sempre se destacaram na propaganda contra Sócrates e tendo como objectivo criar a ideia, junto da opinião pública, de que Sócrates é culpado. No entanto, Maria José Morgado conseguiu dizer, com aquele ar sonso que todos lhe conhecemos, que as fugas de informação favorecem sempre a defesa. Não se tratou de corporativismo. Foi lata e falta de vergonha!
Hoje, logo pela manhã, ainda antes de ser comunicada a decisão de Carlos Alexandre aos advogados de defesa, já o Pasquim da Manha noticiava que Sócrates ia ficar mais três meses na cadeia.
Pela tarde, ficamos a saber que a decisão sobre o recurso apresentado pela defesa de Sócrates foi adiada. Numa decisão que não é inédita, mas muito rara ( segundo afirma a defesa) o Tribunal da Relação pediu um parecer ao Ministério Público, o que permitirá adiar pelo menos por mais 20 dias a decisão.
Pela tarde, ficamos a saber que a decisão sobre o recurso apresentado pela defesa de Sócrates foi adiada. Numa decisão que não é inédita, mas muito rara ( segundo afirma a defesa) o Tribunal da Relação pediu um parecer ao Ministério Público, o que permitirá adiar pelo menos por mais 20 dias a decisão.
Finalmente, dando por verdadeira uma notícia publicada no Jornal de Notícias, a investigação do processo Marquês está a ser alargada a outros membros do governo de Sócrates. Chegado a este ponto começo a interrogar-me, de forma ainda mais fundamentada, se a prisão de Sócrates não é de mais amplo espectro e pretende, além de incriminar o ex-primeiro ministro, minara credibilidade do Partido Socialista, apresentando-o à opinião pública como um viveiro de corruptos. Em ano de eleições, com o PSD e o CDS em risco de serem varridos do poder, a perseguição da justiça ao Partido Socialista é uma dádiva inesperada. Assim como um penalty inventado pelo árbitro para favorecer a equipa do seu coração...
É óbvio que os juízes devem estar gratos a este governo que lhes aumentou os salários, quando todos os portugueses sofem cortes nos seus rendimentos, mas não acredito que seja suficiente para que, em forma de agradecimento, seja desencadeada uma caça às bruxas, visando o PS. Outras intenções haverá certamente. Talvez um dia as consigamos descortinar.
Sócrates pode vir a ser julgado e justamente condenado pelos crimes de que é acusado. Não é isso que está em causa. O que é aterrador é assistir passivamente à sistemática violação das regras da democracia, enquanto os agentes da justiça usufruem da impunidade dos seus actos, porque ninguém fiscaliza o seu "modus operandi".