Só te dedico este post, porque decidiste vir para as páginas dos jornais defender a tua honra, na sequência das criticas que fizeram ao teu trabalho em Atenas. Concordo que algumas são exageradas, mas a verdade é que tal como o teu Benfica em Paços de Ferreira, também te puseste a jeito com as reportagens que fizeste em Atenas.
Conheço bem a Grécia e sei que é verdade o que dizes sobre
os falsos paralíticos, os taxistas cegos, os médicos corruptos - meros exemplos da corrupção que mina a sociedade grega. Sei que havia muitos
funcionários públicos que nem sequer iam trabalhar. Limitavam-se a receber o vencimento. Conheci
vários nessas condições. Mas tudo aquilo que conheço e
critico na sociedade grega, não me confere o direito de generalizar e perentoriamente
garantir que os gregos são corruptos e preguiçosos.
Terás de reconhecer
que não foste isento. Poderá ter sido azar meu, ou excesso de pontaria, mas nos
apontamentos que fizeste de Atenas nunca te ouvi referir que os desempregados
não têm subsídio de desemprego e que ao fim de três meses sem trabalho, as
pessoas deixam de ter acesso aos serviços de saúde. Escondeste a miséria em que
vive grande parte da população grega. Fizeste orelhas moucas e fechaste os
olhos ao que não te interessava para a narrativa que querias impingir aos
telespectadores da RTP.
Não o fizeste por incompetência. Foi má fé , desonestidade intelectual ou, então, porque de
tantos livros escreveres, já confundes a
tua profissão de jornalista com a de escritor ( na minha modesta opinião mauzinho,
devo dizer) . O que reportaste desde Atenas, não foi a verdade. Foi a tua verdade.
Aquela que impinges aos teus leitores ( com sucesso, devo reconhecer) nos teus
livrecos de cordel. Prestaste um mau serviço aos portugueses mas, acima de
tudo, à televisão que te paga o direito ao devaneio e, até por isso, devias respeitar.
Como cidadão, podes dizer tudo o que te apetece. Como
jornalista, enviado especial de um canal de televisão ( ainda por cima público)
deves limitar-te a dizer a verdade. Não “a tua” verdade.
Tu sabes bem que o Syriza não é um partido de extrema
esquerda radical, mas não hesitaste em transmitir essa mensagem, estilo “ Maria
vai com as outras”. No entanto, nunca te ouvi uma palavra de repúdio ao Aurora
Dourada. E já agora que tens a dizer dos partidos que impuseram austeridade
cega a gregos e portugueses? São moderados?
Chegaste a ser ridículo quando expressaste o desejo de que os gregos ainda tivessem um lampejo de bom
senso de última hora e não votassem no Syriza. Isso não te dignifica nem um
bocadinho. Bem pelo contrário. Chegou a
hora de te decidires se queres ser escritor ou jornalista, Zé. Não é que sejam
actividades incompatíveis, tu é que as tornas incompatíveis na tua condição de
Homem Duplicado. Se queres que te dê a minha opinião, penso que és melhor
jornalista do que escritor, mas acredito que aufiras mais rendimentos dos
livros do que do jornalismo, pelo que deveria ser fácil optares. Só que é o
jornalismo que te fornece material para os livros que escreves, pelo que deixar
o jornalismo seria secar a fonte em que te inspiras.
Azar teu!
Não podes é continuar a ser cabotino e a desprestigiar o jornalismo.
Não podes é continuar a ser cabotino e a desprestigiar o jornalismo.
Presumo que já estejas a preparar um novo livro para o
Natal, que tenha como pano de fundo a Grécia. Podes começar a escrever o guião
quando regressares a Lisboa num dos próximos voos. Mas vê lá se deixas de sonhar com sopa de peixe feita com leite de mamas ( que sonhos tens, Zé!) e consegues descrever uma relação sexual sem caires no ridículo. Já agora, se me permites um
conselho, não te esqueças de trazer uma caixinha de bombons da free shop do
aeroporto para a Cristina Esteves. É que a forma arrebatada como ela te defendeu, perante
as críticas de José Manuel Pureza, merece uma recompensa.