 |
A Caminhada do Medo (Graça Morais) |
Este ano talvez não traga uma nova crise financeira na Europa ( ficará adiada para 2016 ou 2017), mas há imensas razões para admitir que 2015 seja o ano da vitória do medo sobre a razão.
Os poderes políticos instalados usarão de todos os meios ao seu alcance para amedrontrar os cidadãos europeus, nomeadamente em períodos eleitorais. Perdida a capacidade de persuadir os eleitores através da razão, depois das brutais medidas de austeridade que criaram milhões de novos pobres, resta-lhes instalar um clima de medo sobre as consequências de eventuais mudanças.
Comecemos pelas eleições que este ano vão ocorrer em vários países europeus. A avaliar pelo clima de medo que a Alemanha, a UE e o BCE estão a incutir no povo grego, tentando impedir a todo o custo uma vitória do Syriza ( ninguém me convence que a decisão de Papandreou criar um novo partido em vésperas de eleições não foi soprado e acarinhado peça Alemanha e, quiçá, também por Draghi) é de admitir que a estratégia se repercuta nas eleições em Portugal e Espanha, mas também no Reino Unido.
Como há dias referi, uma vitória do Syriza na Grécia não deixará de influenciar os resultados eleitorais do Outono em Portugal e Espanha e transformar o quadro europeu. Uma vitória do Syriza obrigará Berlim e Bruxelas a redobrar os seus esforços e aumentar as suas ameaças, no intuito de evitar, a todo o custo, uma vitória do PODEMOS, cujas repercussões seriam muito mais impactantes. O reforço das tendências autonómicas em Espanha será uma realidade que provocará um efeito dominó noutros países europeus.
Enquanto por cá os partidos do governo irão agitar a bandeira do medo, avisando o eleitorado que se o seu mandato não for renovado voltaremos “ao regabofe do governo Sócrates que nos deixou na bancarrota” ( e nós sabemos como os tugas são fáceis de amedrontar) as eleições no Reino Unido ( em Maio) trazem outros medos. A ascensão do UKIP, por um lado, e a ameaça de Cameron em antecipar o referendo sobre a saída da UE, colocarão desafios imediatos e a curto prazo ( as eleições em França são em 2017 e Marine Le Pen está destacada à frente das sondagens).
As eleições em quatro países europeus durante o ano poderão avivar os sintomas de desintegração europeia. Mesmo que partidos frontalmente contra este modelo europeu assente na austeridade, no aumento das desigualdades e no empobrecimento, não vençam as eleições nos seus países, é certo que adquirirão força e capacidade de diálogo, condicionando as políticas dos governos eleitos. Por algum lado a corda terá de partir e se Merkel persistir na sua intransigência, insistindo em condenar os povos dos países mais pobres à escravatura de Berlim, iremos assistir a grandes convulsões no espaço europeu.
Cingindo-me apenas ao quadro europeu é imperioso fazer uma referência ao conflito ucraniano. Longe de estar sanado, o conflito pode recrudescer a qualquer momento. Se a Rússia se afundar na crise e a EU (aliada aos EUA) continuar a insistir nas sanções, a reação de Putin será inevitável e ninguém espere que seja pacífica. Uma coisa é certa: a desagregação da Ucrânia ( a caminho de uma Federação?) é apenas uma questão de tempo. Acredito que em 2015 as coisas fiquem mais claras.
Há outras razões que ultrapassam as fronteiras europeias que me levam a acentuar que 2015 será o ano de todos os medos. Desde o ISIS ao conflito israelo-palestiniano, passando pela instabilidade no Golfo, pela desagregação da Síria e do Iraque, o conflito no Líbano, ou o despoletar de um conflito ente o Irão e a Arábia Saudita provocado pela baixa dos preços do petróleo. Sem esquecer, obviamente a pressão migratória em direção à Europa que estes conflitos estão a gerar, transformando o Mediterrâneo num cemitério de famintos.