A convenção do BE irá marcar a agenda políticia deste fim de semana. Uma vitória da tendência UDP, liderada por Luís Fazenda e Pedro Filipe Soares, será a última brecha no BE que conduzirá à sua definitiva implosão.
Quando foi criado, em 1999, o BE constituiu um sinal de esperança no eleitorado de esquerda. O crescimento dos anos seguintes cimentou a ideia de que o BE era o partido que a esquerda desejava para evitar alianças do PS com a direita. Em 2009, o BE atingia uma votação histórica e parecia embalado para se transformar no quarto partido português, quiçá com aspirações a ser um partido de charneira que contribuísse para obrigar o PS a governar à esquerda.
Só que, a partir daí, começaram a ser mais visíveis as divisões dentro do Bloco, que passou a ser uma amálgama de pequenos grupos onde as diferenças ideológicas se manifestaram. O apoio do BE a Manuel Alegre foi considerado um erro pelos mais radicais que, meses depois, obrigaram o BE a corrigir esse pretenso erro com outro ainda pior: apresentar uma moção de censura ao governo PS e aliar-se à direita para o derrubar.
Muitos eleitores do PS situados mais à esquerda e que terão mesmo votado no BE em 2009, contribuindo assim para o seu crescimento eleitoral, não perdoaram essa “traição”. Internamente, o BE perdeu ( por razões diversas) os seus elementos mais carismáticos ( Louça, Miguel Portas e Daniel Oliveira) em grande parte responsáveis pela unidade do Bloco.
A liderança bicéfala (João Semedo/Catarina Martins) também nunca foi bem vista por algumas tendências, gerando fricções internas difíceis de sanar. O BE começou a perder expressão eleitoral e apoio nas ruas. O movimento Que se Lixe a Troika conseguiu promover algumas das maiores manifestações das últimas décadas, mas o BE não conseguiu capitalizar o descontentamento popular, parecendo aceitar esse falhanço com o mesmo conformismo com que a sociedade portuguesa acabou por acatar a austeridade.
A saída de Rui Tavares e Ana Drago foram a mais recente machadada no BE, tendo a tendência UDP encontrado aí a força para afrontar a actual liderança do BE e tomar as rédeas do partido.
O equilíbrio de forças não permite vaticinar vencedores mas, se a tendência UDP sair vencedora, começar-se-á a assistir à ultima fase na vida do BE já amanhã. Poderá ser uma boa notícia para o LIVRE de Rui Tavares( agora reforçado com a Renovação Comunista e o Forum Manifesto, onde despontam como figuras de maior destaque Ana Drago e Daniel Oliveira) que irá certamente buscar os votos de alguns descontentes do Bloco. Também poderá ser uma boa notícia para António Costa e todos aqueles que dentro do PS querem um entendimento com a esquerda.
Não sei é se será uma boa notícia para a esquerda e para o país. É que em 2015, dificilmente o LIVRE conseguirá ter uma expressão eleitoral que lhe dê força para colocar exigências ao PS. Desaparecido o BE e engolido o LIVRE ( ou diluído numa tendência de esquerda dentro do PS), a esquerda deixará de estar representada por um partido com expressão eleitoral que lhe permita obrigar o PS a fazer as mudanças, claramente de esquerda, de que o país necessita.
Adenda: Este fds servirá também para aquilatar se os militantes do PS continuam empolgados com a vitória de António Costa, ou começam a esmorecer. A afluência às urnas será um bom indicador.