São tantos os focos de incêndio pelo mundo, que se torna difícil acompanhar e escrever sobre todos.
Hoje, dedico alguns minutos a um dos que tenho seguido com mais atenção. Aquele que, (só aparentemente) em lume brando, continua ateado em Hong- Kong.
Já lá vão 18 dias desde que os manifestantes iniciaram os protestos e, salvo um ou outro momento de maior tensão, tudo tem decorrido de forma pacífica. É perceptível que, depois da primeira semana, o número de manifestantes se reduziu substancialmente e a sua expressão já não é muito significativa, se considerarmos que vivem em Hong Kong, 7 milhões de pessoas.
Os graves prejuízos causados no comércio e turismo de Hong Kong ( ascendem já a 38 mil milhões de € os prejuízos em 18 dias de protestos) têm contribuído para que a adesão popular seja mais reduzida ou, pelo menos, mais discreta.
Como já aqui escrevi, este é um jogo de paciência no qual o governo aposta fortemente, mas os manifestantes também. O governo tem a expectativa de que a população, afectada no bolso e cansada com os transtornos provocados pelas reivindicações do movimento pró democracia, se demarque dos protestos e passe para o seu lado. Os manifestantes, por seu lado, esperam que a repercussão internacional dos protestos obrigue Pequim a ceder às suas reivindicações.
Ontem, o governo deu algum alento aos manifestantes. A polícia foi obrigada a intervir com gás pimenta e bastões para dispersar os que se concentravam junto à sede do governo, tendo feito várias detenções. Poucas horas depois, começou a circular nas televisões de todo o mundo e na Internet um vídeo mostrando vários polícias a espancar um manifestante. Ouro sobre azul para a estratégia dos pró democratas que ainda há dias obrigaram o governo de HK a cancelar o diálogo, porque foi confrontado com exigências que não podia aceitar?
Nem por isso. Os países ocidentais estão, neste momento, preocupados com problemas muito mais graves que ameaçam a paz mundial e perceberam que neste momento de aproximação da China à Rússia, não será boa ideia afrontar Pequim. Acresce que talvez comecem a desconfiar que debaixo dos guarda-chuvas talvez não haja apenas pacifismo.
Talvez para os estudantes e líderes do movimento pró democracia, uma repetição de Tian An Men – ainda que sem atingir as mesmas proporções- fosse a situação ideal para ganharem simpatizantes para a sua causa. Creio que isso nunca acontecerá.
Pequim tentará amenizar os protestos, dando voz aos pró democratas na escolha dos candidatos a governador no intuito de obter um consenso mínimo, mas nunca abdicará do modelo que apresentou em Agosto. O qual, convenhamos, é um avanço em direcção à democracia de que os habitantes de HK nunca gozaram.
Uma coisa é certa. A instabilidade em HK não poderá prosseguir durante muito mais tempo. Os mercados começam a ficar nervosos ( a bolsa de HK perdeu 10% em menos de um mês) e Pequim também.
( Fotos The Independent e Wordpress)