I ACTO
Passos de Coelho passeia-se pelo palco, sem dizer uma palavra. Está nervoso. Começa a contar a sua história.
"Andei três anos a dizer que o défice era
para cumprir escrupulosamente, porque Portugal tinha de honrar os seus compromissos Não hesitei em duplicar a austeridade imposta pela troika, obrigando milhares
de portugueses a emigrar e condenando outros milhares ao desemprego e à
miséria, porque esse era o meu dever".
Ouve-se a voz do ponto a recordar-lhe o guião. " lembra-te que estamos em ano eleitoral.
Passos de Coelho recupera o ar fanfarrão de grande estadista e pega na deixa do ponto:
"Em 2015 o défice será de 2,7% , porque insistir nos 2,5%, seria fanatismo
eleitoral".
(Gargalhadas no palco. Uma mulher grávida é socorrida pelo INEM, porque está prestes a dar à luz de tanto rir)
II ACTO
Entram no palco alunos sem aulas e professores sem
saberem se vão ser colocados ou onde vão dar aulas. Num ecrã passam cenas de dezenas de escolas quase
paradas.
Nuno Crato vira-se para o público. Afina a voz e, com pompa e circunstância, anuncia sem sequer esboçar um sorriso:
"Salvo um ou outro caso, o início do ano escolar foi um sucesso".
( um bêbado faz ouvir a sua voz entre gargalhadas e tímidos aplausos: e eu nunca bebi um copo de vinho na vida. Bebo sempre pela garrafa!)
III ACTO
Vítor Bento entra no palco com um cartaz onde se lê:
“Renunciei ao meu lugar no Banco de Portugal e pedi a
reforma, para salvar o BES”
( Ouvem-se alguns aplausos na sala)
Sai do palco por uma porta onde se lê “Novo Banco”.
Borboletas esvoaçam na sua peugada.
Momentos depois volta a entrar. Senta-se a uma
secretária. Atrás da sua cadeira pode
ler-se: “Banco de Portugal”.
Abre a gaveta da secretária. Tira de lá uma folha de papel,
onde escreve qualquer coisa. Levanta-se, vem para a boca de cena e exibe-a ao
público.
“Estava a gozar convosco! Nunca saí do Banco de Portugal.
Eh, eh eh!”
( Pateada)
CENA FINAL (apoteose)
Entra Paulo Portas rodeado de jornalistas. Apresta-se para
fazer uma declaração ao país. “ Sou o defensor dos contribuintes…”
Antes que comece a
fazer revelações sobre o grande sucesso do CDS na descida do IRS, o público
atira-lhe com tomates e ovos podres. O
irrevogável sai de cena. O público abandona a sala. O último acto não valeu o preço
do bilhete, mas sempre deu para aliviar o stress. Pena só ser exibido em Outubro de 2015...