Tal como em 2010, Marina Silva ficou-se pela primeira volta com cerca de 21% dos votos. Há no entanto uma grande diferença: em 2010, Marina saiu como vencedora. Este ano, sai como grande derrotada das eleições brasileiras.
Quando em 2010 abandonou
o PT e decidiu candidatar-se, as
sondagens davam a Marina Silva entre 2 a 5 por cento dos votos. Foi subindo e, no dia das eleições,
surpreendeu o Brasil com uma votação inesperada, superior a 20%.
Em 2010, Marina Silva não era ainda uma “política”, mas os
brasileiros reconheceram a sua luta ao
lado de Chico Mendes e premiaram a sua acção à frente do ministério do
ambiente, que a guindou a figura de
destaque internacional, cumulada de prémios de reconhecimento do seu papel na
defesa do desenvolvimento sustentável. Conquistou votos à direita e à esquerda e lançou um sério
aviso ao PT, que foi obrigado a corrigir alguns desvios para confirmar a vitória de Dilma Roussef na
segunda volta.
O que se passou este ano foi radicalmente diferente. Marina Silva voltou a ser uma candidata
surpresa, mas por motivos muito diferentes.
Era segunda figura do PSB – que aproveitou a sua popularidade para
alargar o leque de eleitores em Eduardo
Campos- e só entrou na corrida, na
sequência da trágica morte do candidato do PSB.
As primeiras sondagens apontavam para a possibilidade de
vencer Dilma na segunda volta. Marina deslumbrou-se e cometeu uma série de
asneiras.
Começou por afastar algumas figuras de topo próximas do candidato do PSB e rodeou-se de
nomes pouco recomendáveis da direita brasileira, nomeadamente na área
económica. Os liberais ganharam tal peso na sua equipa, que até o Financial
Times a elogiou. Renegar a identidade que lhe permitiu granjear simpatias em vastas
franjas do eleitorado, foi o seu primeiro pecado.
O segundo pecado foi contrariar as posições do PSB em matérias delicadas como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ao
reescrever o programa de governo, por pressão da Igreja Evangélica, Marina Silva
demonstrou que cedia facilmente a pressões e era uma candidata facilmente
moldável e permeável. Como aqui escrevi
no dia 1 de setembro, Marina Silva passou de esperança a desilusão. Pagou um
preço elevado por isso.
Finalmente, o terceiro pecado, foi a postura que
adoptou durante a campanha. Segui a campanha e vi dois dos debates.
Percebi que, afinal, Marina Silva não
tem ideias. É um conjunto de slogans colados com cuspo. Para tentar esconder as
suas incoerências e contradições, Marina
privilegiou o ataque a Dilma, atacando a sua idoneidade, a sua honestidade e
pondo em causa programas bandeira do PT. Espalhou-se!
Após as eleições, Marina cometeu mais um pecado que, provavelmente,lhe terá retirado a possibilidade de um dia chegar ao palácio do Planalto: optou por não manter a neutralidade de 2010 e declarou o seu apoio a Aécio Neves. É um apoio baseado no ódio a Dilma, que foi cimentando ao longo da campanha. Ou, então, vingança Só uma destas razões explica que Marina apoie o candidato que, pelo menos no discurso, é radicalmente diferente dos princípios que diz defender.
Ao contrário do que em tempos cheguei a admitir, Marina
Silva é demasiado frágil a
nível intelectual e politico, não tem capacidade nem estofo para gerir um país
com a dimensão do Brasil que se quer afirmar, definitivamente, como grande
potência mundial.
Marina derrotou-se a si própria, quando mostrou aos barsileiros que seria uma boneca de trapos nas mãos dos interesses conservadores da Igreja Evangélica, muitas vezes ligados ao pior do capitalismo e da ideologia ultra liberal. Ainda bem. O Brasil ficou a ganhar.
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