De acordo com a comunicação social, esta declaração de Marcelo provocou bastante incómodo nos apoiantes da lista dos traidores de Portugal. Redes sociais e comentadores analisam o discurso como uma demarcação do professor em relação à Aliança.
A minha interpretação é radicalmente diferente e oposta à que vem sendo veiculada. Marcelo sabe perfeitamente que as eleições do próximo domingo não são para eleger o "primeiro-ministro da Europa", mas sim os deputados ao PE. Sabe também que - mesmo no caso de uma vitória do PSE - Juncker será sempre o sucessor de Barroso, porque o PPE conseguirá formar alianças no Parlamento Europeu que garantam o apoio à decisão do Conselho Europeu que, claramente, apoia para a escolha de Juncker. Uma vitória do PSE será sempre por uma diferença escassa e os socialistas europeus não conseguem, à esquerda, os apoios de que necessitariam para impedir a vitória do candidato do Conselho.
Houve duas razões que levaram Marcelo a fazer aquele número de circo.
Primeira: desvalorizar uma eventual vitória folgada do PS no próximo domingo. Na noite eleitoral, Marcelo dirá, com aquele ar cândido que se lhe conhece "o que interessava, nestas eleições, era a vitória do candidato do PPE e isso foi conseguido. Aliás, já tinha dito isso esta semana num comício da AP, em Coimbra, o que me valeu aliás diversas críticas do meu partido"
Segunda: Ao fingir que a sua declaração visava demarcar-se da Aliança Portugal, Marcelo estava a pensar nas presidenciais. Dando uma imagem de independência em relação ao actual governo, Marcelo estava a pensar nas presidenciais de 2016. Piscou o olho ao eleitorado centrista e laranja, descontente com o actual governo -e mesmo a alguns socialistas- dizendo-lhes: podem contar comigo. Não sou como Cavaco. Mesmo que o PSD venha a integrar o próximo governo, vou sempre defender os interesses dos portugueses e não deixarei de actuar de acordo com aquilo que penso que é melhor para o país. (obviamente que é mentira, mas muitos papalvos cairão na esparrela)
Não acredito que Paulo Rangel não tenha percebido a jogada de Marcelo. Fez-se de burro e fingiu algum desconforto, mas entregou a Nuno Melo o papel de amuado. Esse, sim, intrinsecamente burro.
Aviso: para perceber melhor o que se passou em Coimbra - e, vá lá, conhecer um pouco mais as matreirices de Marcelo - aconselho a leitura deste
excelente texto de Ana Catarina Santos