Há dias, enquanto "televia" os três ex-Presidentes da República da democracia reunidos numa conferência sobre os 40 anos do 25 de Abril, antevia as comemorações do cinquentenário.
Alguém se atreverá a incluir Cavaco Silva num painel com ex-presidentes da República? Como encaixar um eunuco mental entre gente que pensa, tem ideias, sabe discuti-las e defendê-las? Como encaixar gente genuinamente democrata com uma rábula como Cavaco? Como mesclar gente que lutou contra a ditadura
( Soares e Sampaio) com um tipo que confessou estar perfeitamente enquadrado com o espírito do Estado Novo? Como conciliar gente íntegra que serviu o país com lealdade e espírito de missão (Eanes) com um tipo que se serviu do país, se banqueteou durante duas décadas à mesa do orçamento e ainda levou para casa uns trocos oferecidos por uns banqueiros vigaristas que ele promoveu a membros do governo?
E se para tornear esta dificuldade, o Expresso de 2024 optar por convidar ex-primeiros ministros? Alguém imagina Cavaco ( porra, o homem está em toda a parte!)Passos Coelho, Seguro, Santana Lopes ou Barroso a debater ideias? Fica apenas com pessoas como Guterres, ou mesmo Sócrates?
Enquanto televia a conferência, a ideia que constantemente me assaltava era que aquele momento é irrepetível. Daqui a 10 anos os ex-lideres políticos que ainda valha a pena ouvir e não tenham uma memória deturpada do 25 de Abril, serão muito poucos. A tendência é apagar das memórias de Abril aquilo que teve de genuíno e revolucionário. Seguro, Passos Coelho, Santana Lopes, Durão Barroso ou Sócrates, nunca serão memórias fiáveis do 25 de Abril.
Daí que seja importante- diria mesmo determinante para preservar a História- guardar os testemunhos de gente que lutou pela democracia e por um país mais justo, mais solidário e fraterno. Confiar em gente que vendeu o país a retalho como Coelho ou Portas, perverteu os ideias de Abril como Cavaco ou Barroso - quiçá Seguro- ou simplesmente traíram o país entregando-o a interesses estrangeiros, é perverter a História. Por isso, meus caros, esta é a última oportunidade de celebrarmos uma data redonda do 25 de Abril, preservando a memória. A partir daqui, ou o país dá uma grande volta, ou o que nos resta é ouvir as ladainhas mentirosas de um grupo de bandidos que tem como único objectivo perverter a memória e enganar a História.