Aviso:Este post pode ferir pessoas sensíveis que apostam na omnisciência da juventude e no desaparecimento dos velhos, para resolver os problemas do país.
Quero começar por esclarecer que, em minha opinião,os mais atingidos pelo desemprego não são os jovens. Esses podem emigrar, tornar-se empreendedores, aproveitar os fundos comunitários, os programas Erasmus, as licenciaturas fast food e tudo quanto os pais nunca tiveram oportunidade de usufruir para serem trabalhadores mais preparados e com outra visão do mundo. E também podem continuar a cravar os pais e avós, porque a complacência deles é ilimitada.
Já em relação àqueles que ficaram desempregados depois dos 45 anos, basta ver as filas às portas dos centros de emprego para perceber que a sua vida não se afigura nada fácil. A maioria das pessoas com mais de 45 anos não teve a parafernália de oportunidades da actual geração e por isso não está tão bem preparada para enfrentar uma situação de desemprego. A maioria, aliás, nunca mais arranjará emprego porque, hoje em dia, aos 45 anos, uma pessoa já é considerada demasiado velha. Também não pode beneficiar de programas de incentivo ao empreendedorismo, porque esses destinam-se exclusivamente aos jovens.
Por outro lado, o governo olha para os desempregados entre os 45 e os 65, como calaceiros inúteis que não querem trabalhar. Cidadão com mais de 65 é visto por este governo como um chulo que vive à conta do Estado. Pior ainda: os nossos governantes não têm qualquer pejo em afirmar que os velhos andam a roubar os jovens. (Um PM que diz isto, ou passou a vida a roubar, ou não conheceu a mãe).
Um desempregado aos 45 anos tem muito mais probabilidades de vir a ser desempregado o resto da vida, do que um jovem de 25. É por isso que, insisto, me preocupam muito mais os desempregados de longa duração, do que o desemprego jovem.
Há um outro pormenor a que não tem sido dada nenhuma atenção, mas merece especial relevância. Dentro de alguns anos as sociedades ocidentais vão ter que se adaptar a uma nova realidade socio-laboral. Nessa altura os horários serão reduzidos, o descanso semanal alargado, talvez haja mais dias de férias e será dado privilégio à sociedade do lazer.
Claro que essa mudança estrutural irá obrigar a um novo padrão de comportamentos e a uma redução de salários. As pessoas aprenderão a viver com menos dinheiro, mas terão mais tempo para ler, ir ao cinema ( sem sair de casa) conviver e discutir.
Nessa altura, um qualquer partido político dirá que caiu a última conquista da burguesia: o direito ao trabalho
Mas, até lá, serão os velhos e a meia idade a suportar os vícios dos jovens.