O problema do PS será só de liderança? Era bom, era!
Uma eventual vitória de António Costa não resolverá, por si só, os problemas. Dará um novo élan ao partido, cuja dimensão dependerá da capacidade mobilizadora das propostas que Costa vier a apresentar ao país.
Convém lembrar que, no concernente a propostas concretas, Costa ainda não apresentou nenhuma e, quando perguntado sobre o tema, foi bastante vago.
Há dois aspectos que diferenciam o líder do PS e o candidato à liderança :a combatividade e o carisma. Seguro é visto pelo eleitorado como um panhonha, aliado de Passos Coelho e adepto do Bloco Central. Adepto de coligações à direita, sem uma centelha de audácia, Seguro é, na opinião de muitos, um líder fraco que cederá facilmente perante as exigências do seu parceiro de coligação e das imposições europeias.
António Costa tem a imagem de um líder mais combativo, capaz de bater o pé à Europa, liderar uma coligação em que o PS seja vencedor e com maleabilidade suficiente para encontrar apoios à esquerda. Mas, acima de tudo, os portugueses vêem em Costa um líder capaz de ganhar as eleições com maioria absoluta, enquanto recusam liminarmente essa possibilidade se for Seguro a liderar.
A imagem que cada um tem junto dos portugueses pode estar distorcida. No entanto, é a imagem que cada um deixa passar, que ganha votos.
Será a imagem de Costa suficiente para mobilizar os portugueses? É provável. Não deixemos, no entanto, de sintonizar a realidade. Por toda a Europa, os partidos socialistas estão em declínio mas, apesar de Seguro , o PS português foi o terceiro partido socialista mais votado na Europa.
O que quer isto dizer à luz dos resultados das europeias de domingo?
Que o eleitorado está farto da modorra e conformismo dos partidos do Centrão e quer propostas mais ousadas. Os europeus querem propostas que mexam com a Europa e lhe dêem vitalidade. Especialmente os jovens, que apostam no risco e não na manutenção do “status quo” apenas interessante para as clientelas partidárias. Por isso votam nos extremos que lhes oferecem propostas mais ousadas, embora perigosas e que põem em causa a estabilidade.
Em Portugal, muitos dos eleitores que votaram na CDU foram seduzidos pelo discurso ousado e diferente de João Ferreira, que abordou a Europa colocando questões “fora da caixa”. Marinho e Pinto ganhou simpatias pela combatividade e discurso agressivo, que vai ao encontro daquilo que as pessoas querem ouvir. O BE perdeu votos não só porque se esfrangalhou internamente, mas também porque as suas propostas fracturantes foram todas aprovadas pelo governo de Sócrates e o Bloco ficou sem discurso!
Costa poderá ganhar o PS. Mas só ganhará a simpatia do eleitorado e do país se apresentar propostas ousadas, fora do esquema conformista e redondo que caracteriza os partidos do sistema. Se o não fizer, se não ousar arriscar e surpreender com as suas propostas, as mudanças no PS serão apenas uma dança de cadeiras. O destino do PS será, então, o dos outros partidos situacionistas socialistas social democratas do Centrão europeu. Comidos pelos extremos, desaparecerão da cena política. Paz à sua alma!