Eu nem queria acreditar, quando recebi um SMS com a frase “a recessão acabou”. Fui ver e confirmei as minhas suspeitas: os publicitários são uns exagerados! Fiquei surpreendido, no entanto, ao perceber que os publicitários se transferiram para o Banco de Portugal.
Isto de fazer publicidade enganosa, num relatório trimestral, não pode ser iniciativa de Carlos Costa. Ele sabe muito bem que com cortes em salários e pensões, o consumo privado não aumenta. No entanto, a mensagem dos publicitários que ele tem ao seu serviço e cujo trabalho avaliza, não é tão assertiva quanto ao crescimento do consumo privado, como uns quantos intérpretes nos querem fazer crer.
Na verdade, a mensagem dos publicitários diz que vai haver crescimento e retoma mas, em letras pequeninas, lembra que pode ser só para alguns.
No fundo, o relatório do Banco de Portugal é como aqueles produtos milagre para carecas que a publicidade promove. Depois de ler as instruções, percebe-se que o produto se destina a evitar a acentuada queda de cabelo ( e mesmo assim, só em determinadas situações), mas é ineficaz no que concerne a restituir cabelo a um careca.
Traduzindo por miúdos: se o TC chumbar a convergência das pensões e o corte de salários dos funcionários públicos, talvez haja retoma do consumo privado, como aconteceu com a restituição do subsídio de férias. Se ambos os diplomas passarem pelo crivo do TC, a retoma limitar-se-á a alguns privilegiados do sector privado, cujos salários o Banco de Portugal garante que irão crescer em 2014.