No início de Agosto, o Papa Francisco apelou aos joven
s para resistirem e combaterem o consumismo
Pensei que esse pedido do Papa tivesse ampla repercussão nos media e vários comentadores e colunistas pegassem no mote para as suas colunas semanais. Tanto quanto me apercebi, ninguém considerou essa matéria importante. (Não terá sido, certamente, por estarmos na silly season, pouco propícia à discusão de assuntos sérios).
É certo que já João Paulo II fizera idêntico apelo aos jovens em 2004 mas, gozando o Papa Francisco de uma boa imagem junto da opinião pública em geral, esperava que desta vez o pedido papal tivesse mais eco junto dos comentadores cá do burgo.
Analisando friamente esse silêncio, terei de admitir que é normal e justificável. O pedido de Francisco e de João Paulo II é uma crítica à sociedade de consumo que , durante décadas, incitou ao despesismo, ao desperdício, ao descartável e ao consumo do supérfluo e nos conduziu à situação actual. Ao fazerem esse pedido/aviso ambos estavam a alertar os jovens ( mas também os adultos) para não caírem na armadilha que lhes foi criada pelo concubinato da sociedade de consumo com o sistema financeiro: acenar com o crédito fácil para os apanhar na rede e depois fazer deles escravos.
Ao contrário do que diz PPC, na sua suprema ignorância, o problema não foi os portugueses terem vivido durante duas décadas acima das suas possibilidades. O problema foi, tão somente, os governos não terem tido a coragem de dizer aos consumidores que estavam a ser enganados. (
Fizeram com os cidadãos o que muitos pais fazem quando compram o afecto dos filhos, satisfazendo-lhes todas as exigências).
Nem tampouco a coragem de exigir recato a quem andou a publicitar crédito fácil e barato, ou a fazer publicidade enganosa, lesando os consumidores.
PPC teve oportunidade de fazer ambas as coisas, mas optou por ameaçar os consumidores com reguadas- por viverem acima das suas possibilidades,como se eles fossem os culpados da crise- enquanto faz festinhas ao sector financeiro que um dia certamente não lhe faltará com um emprego bem remunerado.
Foi para este concubinato entre poder político e económico- há várias décadas reinante no mundo global, como símbolo de progresso- que os Papas Francisco e João Paulo II chamaram a atenção dos jovens.
A sociedade de consumo tornou-se, na era da globalização, num poderosíssimo instrumento para o triunfo da sociedade do Eu, Ldª , assente no culto do indivíduo, expresso através da fórmula
" Mais vale parecê-lo do que sê-lo" .
Obviamente que tais avisos não agradam aos jovens, porque não percebem os meandros desta sociedade de consumo globalizada. Educados nas escolas do individualismo- muitas vezes alimentada pelos próprios pais- os jovens estão mais interessados na máxima In Vanitas veritas, a mensagem dirigida aos jovens por esta sociedade de consumo exaltada pelos media. Para eles, adquirir a última novidade, ou aparecer num reality show, é muito mais importante do que discutir as questões que podem contribuir para uma sociedade melhor.
Para eles, os adultos têm obrigação de construir e deixar-lhes como herança, uma sociedade à medida dos seus interesses, que depois desbaratarão. Não lhes interessa pensar em construir um futuro, apenas viver o presente e esperar que a herança dos pais lhes caia no regaço.
Compreende-se... Muitas vezes foi essa a educação que receberam em casa.
O aviso do Papa Francisco tampouco agrada aos políticos ou aos comentadores. Lídimos representantes de uma geração criada no individualismo, a palavra solidariedade é algo que lhes soa a esquerdismo ou naïf. A única coisa que os preocupa é o bem estar e estar de bem com os interesses instalados.
Ninguém parece interessado nesta Europa em construir um mundo que privilegie os cidadãos. Estão todos preocupados em culpar a esquerda dos males do mundo, mas ninguém parece querer verdadeiramente saber COMO e PORQUE chegámos aqui.
Mesmo assim,
sugiro-vos que leiam alguns capítulos desta história...