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Anton Tchekhov ( 1860-1904) |
Apesar dos repetidos avisos e insistentes recomendações do meu professor de Literatura, nunca prestei atenção a Tchekhov . "Era um chato como Tolstoi"- respondia eu sistematicamente às suas invectivas, deixando-o com o ar resignado de quem vê um aluno promissor desviar-se por maus caminhos.
Hoje, reconheço que o meu velho professor de Literatura tinha razão. Devia ter lido Tchekhov na adolescência e não apenas já bem entrado na idade adulta.
Tchekhov é o mestre do conto e, sendo eu apreciador do género, poderia ter aprendido muito se tivesse lido mais cedo alguns dos seus contos. Seria hoje, certamente, uma pessoa melhor.
Na minha modesta opinião, ninguém como ele consegue descrever o sofrimento das pessoas marginalizadas com as quais convivia ( recordo que era médico). Pessoas que travavam diariamente uma luta contra a miséria e as privações que punham em causa a sua própria sobrevivência.
Quando lemos os contos de Tchekhov, encontramos personagens que parecem continuar a viver entre nós. Sejam elas camponesas , operárias ou nobres – cujas frivolidades ele descrevia com ironia singular- são personagens que se movem em cenas de um quotidiano tão presente hoje em dia nas nossas vidas.
Tchekhov nunca escreveu um romance. Talvez não tivesse paciência para o fazer, ou pensasse que com a narrativa apreenderia melhor a atenção das pessoas. Por isso escreveu centenas de contos ao longo da vida que se encontram reunidos em 8 volumes ( Relógio d'Água)
Escreveu, também, algumas peças de teatro . Nunca li nenhuma, mas tive a oportunidade de ver em palco pelo menos três delas: “A Gaivota” , “O Jardim das Cerejeiras” e “As três Irmãs"