Não tenho dados suficientes que me permitam ter opinião formada sobre o trabalho desenvolvido por Assunção Cristas à frente do megaministério MAMAOT. Sei, porém, que com ela os problemas ambientais desapareceram da discussão pública, sendo apenas conhecida uma medida logo no início do seu mandato: dispensar os funcionários do uso de gravata, para poupar electricidade com o ar condicionado. Para além desta medida risível e inócua, não conheço nenhuma outra que tivesse o objectivo de garantir a sustentabilidade ambiental.
Admito que desprezar as políticas ambientais tenha sido uma decisão do governo (
É bom lembrar que uma das empresas geridas por Passos Coelho acumulou processos por crimes ambientais, o que deixa perceber a importância que ele dá a este temática).
Tendo sido o despedido Álvaro o primeiro a anunciar que as preocupações com o ambiente eram secundárias e não podiam pôr em causa o emprego e estando Assunção Cristas assoberbada no MAMAOT com medidas tão esdrúxulas como a Lei do Arrendamento, aceito sem qualquer rebuço que tenha apenas esquecido os problemas ambientais. Ou melhor… que os tenha reduzido à preocupação de destruir as estruturas de fiscalização e investigação na área do ambiente, porque é preciso poupar.
Felizmente, durante os dois últimos anos, não há conhecimento de alguma ocorrência grave em matéria ambiental (
Eu sei que houve incêndios devastadores, mas isso até deve ter sido encarado como positivo num governo dirigido por um pirómano apostado na destruição do tecido social) e os portugueses -analfabetos funcionais em matéria ambiental e assoberbados com uma crise financeira que lhes devastou a bolsa – nem se lembraram mais desses ridículos problemas ecológicos com que os governantes e uma meia dúzia de maluquinhos, em tempo de vacas gordas, lhes atazanavam os ouvidos.
Graças a esta indiferença popular,
ninguém se interrogou sobre as causas do encerramento de várias praias da Linha e da Costa da Caparica.
Vi na televisão, aliás, um elevado número de banhistas a ignorar a bandeira vermelha com a mesma displicência com que cerram os olhos perante os avisos de “Afaste-se desta zona PERIGO de DERROCADA”. Para esses banhistas não há perigo nenhum, é tudo alarmismo. Se uma pedra cai e mata alguém acusam as autoridades porque não fiscalizam e continuem as férias, porque a vida são dois dias.
No caso das urticárias que levaram ao encerramento das praias, os tugas lavaram-se com água da torneira e … siga a rusga, toca mas é a reabrir as praias que a água está tão quentinha!
O governo obedeceu de bom grado. Abrir as praias fica mais barato do que encerrá-las para tentar descobrir a causa das irritações cutâneas. Além disso, evitam-se os protestos de comerciantes que deixam de fazer negócio numa época crucial para a salvação de muitos estabelecimentos.
Morreram uns golfinhos e deram à costa milhares de peixes mortos, sem se conhecerem as causas senhora ministra!
Que querem que eu faça? – Não há dinheiro para investigar. Se alguém tivesse morrido, ainda se podia fazer uma autópsia, mas foram só peixes… azar, não vamos gastar dinheiro a autopsiar peixinhos!
Depois chamou o assessor de imprensa e ordenou-lhe:
- Diga aos jornais que se calem com isto. Que maçada! Não vêem que eu estou grávida e não tenho tempo nem paciência para me preocupar com as comichões dos banhistas , nem com os peixinhos que deram à costa?
Irritada telefonou a Portas e exigiu que lhe tirassem a mixordice do Ambiente do seu pelouro.
Portas obedeceu.
Moreira da Silva agradeceu, desconfiado. Afinal já tinha sido convidado para a pasta e depois desconvidado, com este chefe, nunca fiando.
A verdade é que o MAMAOT foi dividido e Moreira da Silva lá tomou conta do pelouro. Ambiental. Para o compensarem da desfeita de 2011, ofereceram-lhe também a Energia. Um problema a menos para Pires de Lima e a Energia até casa bem com o Ambiente. Pena que este governo não goste das renováveis, por ter sido uma aposta de Sócrates. Como o Magalhães ou as Novas Oportunidades.
Se O Magalhães afinal foi um sucesso, porque é que a Energia casada com o Ambiente não poderá ser uma boa ideia? – alvitrou Portas.
E pronto… temos agora um ministro conhecedor e com boas provas dadas no Ambiente, mas num ministério com as estruturas e recursos técnicos esfrangalhados . Se conseguir reconstruí-lo, já não será mau. Se voltar a dar ao Ambiente o protagonismo e eficácia que necessita, ainda melhor. Se descobrir as causas das urticárias, então será ouro sobre azul. Se conseguir recuperar para o seu ministério a pasta do consumo seria um triunfo civilizacional.
Eu confio neste ministro. A maioria dos portugueses é que nem desconfia o que poderá estar escondido por baixo das comichões que se eclipsaram, depois de lavadas com água da torneira. Nem eles sonham que, desde 2010, está suspensa a monitorização dos sistemas de saneamento.
Quando as alterações climáticas provocarem a ira das águas do mar e começarem a inundar as zonas ribeirinhas, os nossos governantes vão pensar que é urticária a atacar o cimento e vão mandar lavar as casas ( ou o que restar delas...) com água da torneira.