“ … Noutro restaurante de praia próximo, contei nove empregados e apenas dois eram portugueses. No vizinho do lado eram sete empregados, dos quais dois eram portugueses.No negócio de aluguer de gaivotas, pranchas, ski e motos de água, eram todos estrangeiros e até um dos nadadores-salvadores era ucraniano. Onde estão, então, os portugueses do Algarve a trabalhar? Resposta: no subsídio de desemprego. Eu sei que este discurso não é politicamente correcto e até pode conduzir-nos por caminhos perigosos. Mas lá que é assim, é. E dá que pensar.”
(
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 27 de Julho 2013)
Pois dá, Miguel.Ao ler isto, até me fizeste lembrar o puto Martin, tão incensado empreendedor do salário mínimo. Os argumentos dele são muito idênticos aos teus, Miguel. Ele também acha que pagar o salário mínimo é melhor do que estar a sobrecarregar o Estado com o pagamento do subsídio de desemprego. Desculpa lá, Miguel, mas vou pedir-te para desceres à terra durante dois minutos e ouvires o que tenho para te dizer.
Eu, que percorro este país de lés a lés vezes sem conta, já me interroguei muitas vezes sobre isso, quando vi brasileiros, ucranianos, africanos ou moldavos, a trabalhar numa perdida aldeia alentejana, ou num recôndito lugarejo da Beira ou Trás os Montes. Como não queria deixar a pergunta suspensa na minha dúvida, durante essas viagens fui procurar a resposta. Sabes o que descobri, Miguel?
Que muitos desses estrangeiros trabalham sem horário, sem contrato e não recebem sequer o salário mínimo. Alguns vivem em instalações fornecidas pelo empregador, em condições que nem podes imaginar. A maioria é descartada pelos empregadores ao fim de alguns meses, porque por cada despedido , está pelo menos uma dezena de imigrantes em fila de espera.
Pergunta a esses imigrantes, aí pelo Algarve, quanto ganham, em que condições vivem e o que lhes vai acontecer em Setembro, quando terminar a época turística. Depois falamos, ok?