No dia 10 de Julho o governo de iniciativa presidencial PSD/CDS estava morto e desacreditado. Cavaco Silva saiu então em defesa da sua dama e jogou forte para a salvar. Deu uma cenoura a Seguro, mas exigiu-lhe que assinasse com o seu governo um acordo que, na prática, retiraria ao PS a possibilidade de ser alternativa.
Ao tentar este acordo, Cavaco apenas pretendia recuperar a sua credibilidade junto dos portugueses e fugir à humilhação de ficar na História como pior PR da democracia portuguesa e aquele que, deliberadamente, contribuiu para o pedido de resgate e suportou até à exaustão um governo da sua iniciativa.
Acredito que PPC e Seguro tenham dado garantias a Cavaco de tudo fazerem por um acordo, mas nenhum deles terá entrado de boa fé neste espectáculo que manteve o país suspenso até hoje.
Na quinta-feira, PPC fez questão de mostrar ao país que tinha metido Cavaco no bolso. À tarde na AR e à noite na patética comunicação ao país durante o Conselho Nacional, anunciou claramente que não assinaria nenhum acordo e qual seria a decisão de Cavaco.
Derrotada a sua estratégia, Cavaco só tinha duas opções: ou demitia-se ou fazia o que Passos Coelho lhe exigia. Convocar eleições antecipadas significaria ter de conviver com um novo governo PS e o reconhecimento de mais uma derrota.
Foi penoso ver Cavaco esta noite. Como um palhaço que vê o seu número suscitar indiferença nos simpatizantes e pateada nos seus detractores, o PR fingiu que estava a ser aplaudido por todos. No seu íntimo, porém, sabe que todos o apupam. Ainda ensaiou o número de que a partir de agora, vai ser ele a impor a política que o governo deve seguir. Pobre coitado! Não sabe que as regras constitucionais do circo, não lhe permitem essa veleidade.
A humilhação de ser obrigado a manter em funções este elenco, sem sequer ter o alibi de ter conseguido o tão propalado consenso com o PS, foi o preço que teve de pagar por ter afrontado PPC. Mas nem tudo será mau. Resta-lhe a consolação de o caso BPN continuar remetido a um silêncio ensurdecedor. Caso contrário, a humilhação poderia ser ainda maior...
A humilhação de ser obrigado a manter em funções este elenco, sem sequer ter o alibi de ter conseguido o tão propalado consenso com o PS, foi o preço que teve de pagar por ter afrontado PPC. Mas nem tudo será mau. Resta-lhe a consolação de o caso BPN continuar remetido a um silêncio ensurdecedor. Caso contrário, a humilhação poderia ser ainda maior...
Adenda: Vale a pena rebobinar estes 20 dias e recordar alguns episódios que já terão caído no esquecimento de alguns. Amanhã, depois de regressar a Lisboa, tentarei esse exercício de memória.