Fui informado da demissão de Miguel Relvas durante uma
conferência na Universidade Nova em que estou a participar.
Liguei o Ipad para acompanhar as notícias e, depois de ler o
essencial, disse a quem estava ao meu lado: a notícia não é essa!
Na verdade, há quatro notícias relacionadas com a demissão de
Relvas que são mais importantes:
1- Nuno
Crato, que tinha o processo da licenciatura de Relvas escondido numa gaveta desde o dia 18 de Janeiro,
enviou-o hoje para o Ministério Público. Urge perguntar: por que razão levou
Crato quase três meses a tomar uma decisão? Esteve a fazer um favor a Pedro
Passos Coelho, para que a saída de Relvas se verificasse no momento mais
oportuno para o governo? Então Crato
deveria ter-se igualmente demitido, em vez de se esconder atrás de um
comunicado ( cujo conteúdo ainda desconheço).
2- Pedro
Passos Coelho defendeu Relvas até ao limite e chegou a dizer que a licenciatura
de Relvas era “um não caso”. Embora tivesse afirmado em 2012, numa entrevista,
que demitiria de imediato qualquer ministro
que mentisse, não agiu em conformidade quando Miguel Relvas mentiu na AR. Se fosse coerente e pautasse a
sua vida pela honestidade, Pedro Passos Coelho demitir-se-ia. Não o vai fazer.
Prefere continuar a afundar o país, agindo como um náufrago que espera a salvação.
Nestes momentos, até os não crentes costumam rezar e pedir o apoio divino. Até
quando o deus de Belém estará disposto a mantê-lo vivo?
3- A
imprensa noticia que no sábado haverá um conselho de ministros extraordinário. Ninguém
duvida que o objectivo será a remodelação alargada do governo, na sequência da
decisão do TC. É oportuno perguntar: como resistirá PPC sem a sua alma gémea no
governo? Nem sempre a separação de irmãos
siameses tem um final feliz…
4- Percebe-se
agora melhor a razão de o CDS ter pedido publicamente uma remodelação. Portas já
devia saber há muito que Crato tinha o processo de Relvas no congelador à
espera de autorização do primeiro ministro para avançar. Ao pedir a Pires de Lima
e Diogo Feio que fizessem aquele número, Portas mostrou o seu carácter. Está no
governo com um pé sempre no estribo e, na altura apropriada, abandonará o
barco e apunhalará Coelho pelas costas. Para se aliar a Seguro? Muito provável, se as circunstâncias o
proporcionarem.
Voltemos a Miguel Relvas. Tal
como ontem aqui noticiei, Miguel Relvas pediu a PPC para não
ser incluído no pacote da remodelação. O PM
concedeu-lhe esse último desejo. Sem surpresa.
Surpreendente ( ou talvez não…) foi
Miguel Relvas convocar uma conferência
de imprensa para anunciar que saía pelo seu pé, depois de se ter sabido,
minutos antes, que Crato iria enviar o processo da sua licenciatura para o MP!
Este facto é suficientemente grave, para ser ignorado por Relvas, mas define
bem o seu carácter.
Menos surpreendente, foi Relvas
ter aproveitado o anúncio da sua despedida para fazer um auto elogio ao seu trabalho
enquanto ministro. Foi uma intervenção demasiado nojenta, mas bem ao estilo de
quem a proferiu e por isso não vou perder tempo a comentá-la. Apenas pergunto:
se fez um trabalho tão bom, por que razão disse que sai cansado e desanimado? Ninguém
que está satisfeito com o seu trabalho desiste de o continuar. Salvo quando é
apanhado no meio de uma trafulhice. Como parece ser o caso…
Last, but not the least: Ontem, PPC jurava que o governo estava coeso. Hoje começou a perceber-se que está colado com cuspo. Durante o fim de semana assistiremos a novos episódios que demonstrarão que este governo só se mantém, porque tem o apoio inequívoco de Cavaco, mas como ninguém duvida que PPC não aceitará remodelar apenas os ministros do PSD será interessante ver se Portas sacrifica algum dos seus ministros ( ontem avancei que Cristas seria a sacrificada) para manter essa imagem.