Quando acabei de ler o estudo da MERCER sobre a “Análise comparativa das remunerações no sector público e no sector privado”, fiquei a pensar se os tipos que o fizeram são atrasados mentais, apenas incompetentes, ou receberam ordens da empresa para fazer um estudo jeitoso que agradasse ao governo, pois é ele quem paga e convém agradar ao patrão.
Sem resposta ( quem sabe se “ambas as três” não estarão correctas) e indeciso por onde devia começar a análise das incorrecções, omissões e perversões que produziram aquele dislate, sou salvo por um amigo que teve a amabilidade de me enviar a análise ao documento feita pelo Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado (SQTE).
Assim, limito-me a respigar alguns dos erros mais gritantes enunciados pelo SQTE.
1-
As remunerações de base e o ganho médio mensal dos trabalhadores do setor público estão sobreavaliados (…) porque
não contemplam os cortes salariais verificados a partir de 2011
2-
Uma comparação credível e rigorosa terá que efetuar uma comparação em termos mensais e anuais ( Nota minha:
o sector privado recebe 14 remunerações e o público apenas 13- ano passado apenas 12)
3-
Para o setor público, o estudo incluiu as remunerações variáveis mas, para o privado, apenas contabilizou as remunerações fixas, negligenciando o facto de, em muitos casos, as remunerações variáveis no privado serem superiores às fixas. (
Como é que se podem comparar salários com bases diferentes? Alguém me explica?)
4-
O estudo diz que, no setor público, a antiguidade é determinante.
Mentira! As progressões no público dependem da avaliação de desempenho e estão congeladas há anos!
5-
O estudo “esquece” que no público há uma tabela única de remunerações, enquanto no privado há vários setores com remunerações bem diferenciadas
6- Finalmente, para abreviar, mas clarificar melhor a estupidez, incompetência ou má fé ( ou ambas as três, não é verdade ó Relvas?) os estudiosos compararam funções que só existem no Estado com funções que pura e simplesmente não existem no privado ( Ex: militares, diplomatas, bombeiros…) Refere o SQTE que a MERCER se baseou na comparação destas funções com funções de idêntico valor no setor privado. Como é que a MERCER fez essa comparação é que seria giro perceber!
É no entanto, com base neste estudo, baseado em premissas falsas, que o governo se propõe tomar decisões em termos de matéria salarial na AP! Alguém pode levar esta gente a sério?
ADITAMENTO: Os inúmeros jornalistas que se debruçaram sobre o documento não viram estas incongruências e vomitaram peças propagandísticas sem qualquer rigor. Como vem sendo apanágio do jornalismo hoje em dia, metem-lhes uma folha de papel à frente, telefonam para um assessor ou especialista dos gabinetes e fogo à peça! Sejam decentes, senhores jornalistas! Façam o vosso trabalho com rigor e sem se preocuparem em amplificar os desejos do governo. A Pátria agradece-vos
* Escrevia o Expresso da semana passada que a expressão foi usada por Relvas numa audição parlamentar. Ou seria para lamentar?