Estou de acordo com os que dizem que a manifestação dos estudantes contra Relvas não foi democrática, mas isso não significa que concorde com as críticas que lhes têm sido dirigidas.
Antes de mais, se houve algum erro no ISCTE, foi cometido por quem convidou Miguel Relvas a discursar. Foi um erro de casting, porque o ministro não pertence àquele filme. ( Já se esqueceram do caso Público?)
Os estudantes desrespeitaram as regras do jogo democrático mas, ao contrário do que já li por aí, não foram eles a quebrar as regras. Apenas se limitaram a responder, com as armas que têm, à batotice de um governo que já demonstrou, sobejas vezes, que convive mal com a democracia e não perde qualquer oportunidade para violar os direitos dos cidadãos.
Já há muito defendo que o governo perdeu a legitimidade, porque fez batota para ganhar as eleições.
Aqueles que acusam os estudantes de ter exorbitado o âmbito da sua luta devem ter esquecido o tempo em que, para combater o Estado Novo, os estudantes saíram à rua em protesto tendo alguns pago com a vida a sua luta.
Não se pode combater um governo anti-democrático, que escraviza um povo e o vende aos interesses da alta finança internacional, sem ser pela luta.
Pedir aos estudantes que joguem as regras da democracia, é pedir-lhes que se defendam com penas de quem os agride com pedras.
Este governo vendeu os portugueses e o seu património, mas nunca foi legitimado democraticamente para o fazer. É um governo fora da lei e, como tal, deve ser combatido por todos os meios que os portugueses tenham ao seu alcance.
Todos os dias vemos pessoas a aumentar o rol dos desempregados- a maioria dos quais nunca mais voltará a ter emprego;
Diariamente, centenas de pessoas são atiradas para a pobreza sem retorno;
Diariamente vemos pequenos e médios empresários a fechar as portas das suas empresas que eram o seu sustento;
Assistimos a um crescendo do número de suicídios;
Aumenta o número de pessoas com depressões e, por tabela, a violência doméstica e a criminalidade motivada pelo desespero dos que perderam a esperança no futuro.
Perante tudo isto, alguns indignam-se e condenam os estudantes por terem impedido, com protestos, que um trapaceiro discursasse numa assembleia de engravatados.
As regras da democracia devem ser respeitadas quando o governo as cumpre. A partir do momento em que o governo começa a fazer batota e o árbitro que dirige o jogo faz vista grossa às agressões, qualquer reacção à margem da lei deve ser encarada como legítima defesa.