Numa das últimas madrugadas vi, na SIC, uma reportagem que me deixou com os cabelos em pé. No Arizona há uma prisão a céu aberto, onde os prisioneiros dormem em tendas, suportando temperaturas de 60 graus no Verão e temperaturas negativas no Inverno. Quem passa ao largo da prisão pode ver, no alto da “torre de menagem”, um letreiro luminoso com a palavra “Vacancy” ( lugares disponíveis).
Os presos não estão em permanência no estabelecimento prisional. Em alguns dias da semana são exibidos à população. Percorrem as ruas em fila, acorrentados e agrilhoados, envergando o seu fato de presidiários ( às risquinhas, como o usado pelo deputado Coelho no seu protesto na AR da Madeira),sob os quais espreita a lingerie cor de rosa, de uso obrigatório na prisão.
O xerife do Arizona confessa a sua satisfação pelas medidas adoptadas.
“ A prisão não é um hotel e mostrar à população as condições que proporcionamos aos presos é um motivo dissuasor”.
Os números desmentem a afirmação. Na verdade, mais de 60% da população prisional no Arizona é reincidente, logo, não são as condições ultrajantes nem a exposição pública que impedem os “criminosos” de voltar a prevaricar.
Apesar de tudo, a população do Arizona gosta. A comprová-lo, o facto de eleger este xerife há 20 anos consecutivos ( nos Estados Unidos os xerifes são eleitos). A reportagem também não deixa quaisquer dúvidas: a maioria dos entrevistados aprova o modelo prisional, embora alguns manifestem desagrado por ter de suportar aquela exibição de rua, a lembrar tempos imemoriais.
O Arizona não é um estado isolado nestas práticas. Noutros estados do “sonho americano” as pessoas condenadas por crimes de furto, ou burla, podem substituir a pena de prisão por actos de humilhação pública. A reportagem mostrava, por exemplo, um casal condenado por ter burlado os beneficiários de um fundo de pensões. Condenados a 10 anos de prisão, aceitaram a pena alternativa.
À porta da casa foi colocado um cartaz em que pode ler-se
“ Somos ladrões. Roubámos dinheiro do fundo de pensões, prejudicando muitas famílias”. Cumulativamente, ao fim de semana ( e durante seis anos) marido e mulher são obrigados a passear na rua mais movimentada da cidade, onde está localizado o maior centro comercial do estado, exibindo um cartaz “sandwich” onde se pode ler como título
“ I’m a thief” ( sou um ladrão) e depois se descreve o crime que cometeram e a pena a que foram condenados.
A maioria dos americanos também é favorável a esta humilhação pública e isso explica algumas atitudes (
no meu conceito, aberrantes) que abordarei aqui amanhã.