O Brasil é um caso exemplar entre os países emergentes. Entre os BRIC (
Brasil, Rússia, India e China) é o país que tem um modelo de crescimento mais consistente e sustentável.
Nada surgiu por acaso. Lula lançou os alicerces de um país novo e Dilma dá-lhe consistência. Grandes eventos como a Rio +20, o Mundial de Futebol 2014, ou os Jogos Olímpicos 2016, servem de cimento a este crescimento sustentado, projectando o Brasil como um exemplo de pujança no mundo global.
A sua economia cresce a um nível superior à média mundial; as desigualdades sociais diminuíram de forma acentuada; o desemprego reduziu-se e melhoraram as condições laborais; os índices de desenvolvimento social - embora não acompanhando o desenvolvimento económico- são bastante satisfatórios, se tivermos em consideração o contexto sócio geográfico do país.
No entanto, apesar de o crescimento estar sustentado em bases aparentemente sólidas, há diversos factores que podem fazer o Brasil colapsar.
Em primeiro lugar, é notório que a burocracia continua a ser um entrave ao desenvolvimento. Não só obstaculiza o investimento, como favorece a corrupção, arreigada na sociedade brasileira desde tempos imemoriais.
Por outro lado, é visível que as elites brasileiras, habituadas a seculares privilégios, não encaram de bom grado a evolução do país, rumo a uma maior democratização política e social. Os "jagunços" não desapareceram e os mais fracos continuam - nomeadamente nas regiões menos desenvolvidas- a ser vítimas dos poderosos, muito por força de um índice de analfabetismo muito elevado.
É também perceptível a falta de solidariedade federal, cujo exemplo mais recente foi a resistência dos cariocas à distribuição das verbas da exploração petrolífera por estados menos desenvolvidos e mais carenciados.
Finalmente, a criminalidade continua a ser um dos calcanhares de Aquiles do desenvolvimento do Brasil. Muitos terão acreditado que a "limpeza" efectuada nas favelas do Rio de Janeiro era uma demonstração de que as autoridades brasileiras tinham conseguido vencer a criminalidade. Pura ilusão! A onda de violência que na última semana assolou o Estado de Santa Catarina (um dos maiores pólos de atracção turística do país e que, em minha opinião, congrega igualmente alguns dos mais belos tesouros do Brasil) é extremamente preocupante.
Dir-me-ão que não se pode fazer tudo ao mesmo tempo. De acordo, mas não se podem menosprezar sinais evidentes de convulsões sociais latentes, traduzidas em ataques aos turistas, num país que se prepara para, em apenas dois anos, albergar no seu território os dois maiores eventos mundiais no âmbito desportivo.
A forma como as autoridades brasileiras forem capazes de responder a estes sinais, cortando cerce as investidas dos narcotraficantes, será determinante para que o país passe incólume ao escrutínio dessas duas provas que irá enfrentar até 2016.
Será esse combate que irá determinar se o Brasil se imporá aos olhos do mundo como um país de sucesso, ou ficará rotulado como uma África do Sul da América Latina.