Esta época natalícia apresenta inúmeras semelhanças com a Páscoa,
tal o número de ressurreições que está a proporcionar.
Primeiro foi o Álvaro. De ministro remodelável e patinho
feio do elenco governativo, passou a estrela da companhia. Deram-lhe corda e
ele começou a falar. Entusiasmou-se tanto, que acabou da forma mais previsível:
estampou-se quando afirmou que a Europa
estava ser naif por insistir em aplicar regras ambientais para a indústria. As reacções
não se fizeram esperar.
A primeira a sair a terreiro foi Assunção Cristas que teceu
duras críticas às declarações do ministro Álvaro. Logo de seguida foi o número
dois do PSD- Moreira da Silva- cujas críticas contundentes mereceram mesmo um
reparo de Paulo Rangel. Não por serem injustas, mas demasiado acutilantes.
Finalmente, foi o ministro das finanças a meter a colherada de uma forma que
tem um cheirinho de vingança, pelo facto de Álvaro estar a querer fazer-lhe
sombra. E quanto á redução do IRC para as empresas foi avisando: talvez em 2014, mas com as regras que eu ditar.
A segunda ressurreição foi a de Relvas. Ultrapassado o período
de nojo que lhe foi imposto depois de ter mentido na AR ( sem quaisquer
consequências) o ministro das licenciaturas a crédito aparece remoçado. Não há dia em que não
estenda a bocarra para uma multidão de microfones em riste. Sempre com um
sorriso nos lábios, lá vai somando gaffes e patranhas. Da gaffe do apoio a
Seara, à declaração de que este governo tem sido de uma transparência imaculada
no processo de privatizações, Relvas tem sempre alguma coisa a dizer.
Não espanta que Relvas considere transparente o processo de
privatizações. A sua bitola em matéria de transparência é demasiado baixa, como
ficou provado com o processo da sua licenciatura(?).
Até final do ano vamos assistir a, pelo menos, mais uma
ressurreição. Por estes dias Cavaco Silva irá decidir o futuro do OE e,
presume-se, irá falar ao país depois de um longo período de silêncio. O mais
provável é que justifique a promulgação do OE por razões de interesse nacional
mas, como tem dúvidas quanto à sua constitucionalidade, remete-o de imediato
para o TC, pedindo a fiscalização sucessiva. (Pelo que noticia o "Expresso" a única coisa que o preocupa é saber se o corte da sua pensão é constitucional...)
Depois, com a mesma tranquilidade de Pilatos, irá comer bolo
rei, rabanadas e beber um copo de “vinho fino”.
Quem não ressuscitará por estes dias é o povo português. Bem
pelo contrário. Continuará à espera que esta classe política coloque o último
prego no seu caixão. Uma vez consumada a tarefa, talvez estrebuche. Temo que
seja tarde e já ninguém o oiça.