Aprendi na minha experiência ( felizmente curta…) em Bruxelas, que a acção dos eurocratas faz dos nossos burocratas meninos de coro. Em Bruxelas legisla-se porque é preciso fazer alguma coisa para justificar os principescos ordenados. Pouco importa que a fúria legífera dos eurocratas esteja desfasada da realidade. O importante é obrigar os Estados membros a transpor directivas comunitárias, dando a sensação que a União Europeia está preocupada com o bem estar dos 600 milhões de europeus que vivem no espaço comunitário.
Hoje, a Comissão Europeia vai apresentar uma proposta de directiva para obrigar as maiores empresas da União a ter, pelo menos, 40% de mulheres entre os membros não executivos dos seus conselhos de administração.
Ambiciosa, a CE inclui na proposta a obrigatoriedade de aquela percentagem ser também atingida em todas as empresas públicas até 2018 e, nas cotadas em bolsa, até 2020!
A ideia, claro está, saiu da cabeça da comissária europeia para a justiça e cidadania, Viviane Reding, que já foi comissária para a defesa do consumidor e da saúde, com os resultados desastrosos que se conhecem.
A justiceira europeia propõe, ainda, que as empresas que não respeitem a directiva deverão ser alvo de sanções que vão desde a simples multa, à proibição de se apresentarem a concursos públicos, ou de receber subsídios europeus.
Embora a proposta deva ser aprovada em plenário de comissários, é pouco provável que obtenha o consenso da maioria dos estados-membros que, liderados pelo Reino Unido, já se movimentam para refrear os ânimos de Viviane Reding.
Intervir por decreto na administração das empresas já é uma proposta descabelada, mas atinge os laivos do ridículo quando se constata que os gabinetes das comissárias femininas são aqueles que têm menor percentagem de mulheres!
A proposta é um atentado ao bom senso. Obrigar empresas a nomear administradoras por decreto é uma ingerência inqualificável e, eventualmente, um desperdício que pode representar elevados custos para as empresas.
Está por provar que a percentagem de mulheres nos conselhos de administração estabelecida por decreto (ainda que sem poderes executivos) seja uma mais valia. A minha experiência profissional revela, por outro lado, que ao longo da vida encontrei em cargos de chefia mulheres que demonstram muito maior insensibilidade do que os homens, quando se trata de mandar trabalhadores para o desemprego. Estão normalmente dispostas a fazer o papel de algozes e, curiosamente, sempre que as vi colocadas no dilema de terem de despedir um homem, ou uma mulher, a maioria das vezes a espada do despedimento recaiu sobre... mulheres!
Já houve tempos em que acreditei ser possível um mundo melhor, se as mulheres assumissem as rédeas do poder. Ao longo da vida, fui percebendo que isso não passa de um mito. Viviane Reding apenas veio confirmar com esta proposta descabelada ( que ela própria não cumpre no seu gabinete de comissária europeia da Justiça) que na Comissão Europeia se continua a discutir o acessório, em vez do essencial e se legisla para a plateia, mas não para a eficácia.