quarta-feira, 4 de julho de 2012
Saudades de Portugal?
Não, não tenho. Duvido mesmo que algum dia venha a ter. Querem saber porquê? Então aqui vai...
Portugal não é apenas esse país exótico que inventou os PIN
para viabilizar projectos turísticos, comerciais ou industriais em áreas protegidas, ou altera um PDM num piscar de olhos, para
proteger a actividade de um sucateiro cuja influência pode ser importante no
resultado eleitoral de um concelho recôndito.
Portugal é o país do “jeitinho”, do “empenho”, ("ó sr
doutor, se me arranjasse qualquer coisa ao miúdo que anda há dois anos ao alto
sem conseguir trabalhar… Obrigado
stôr"), onde (quase) ninguém já acredita ser capaz de mostrar o seu valor
se não tiver um encosto, um padrinho, uma “cunha”.
Mas Portugal é, também, um dos países europeus onde os
cidadãos mais fogem ao cumprimento dos seus deveres fiscais, utilizando as mais
imaginativas artimanhas para iludir o Fisco.
Em Portugal, não é só o merceeiro que rouba no peso do
fiambre. Também o médico ou o advogado evitam passar recibo sobre os seus
serviços e, quando lho exigem, vai de carregar sobre o preço da consulta. No
final de uma refeição num restaurante, há sempre um empregado solícito que pergunta: deseja
factura?
Quando pedimos a um electricista, um canalizador, ou um
carpinteiro algum serviço em nossas casas, a pergunta sacramental, antes de
fazerem o orçamento, é: quer recibo? Ou
seja, quer que lhe ponha mais 20 por cento de IVA na conta?
Claro que o português não quer, por isso responde logo: não,
deixe lá isso!
Portugal é o país onde a
Segurança Social detectou, nos últimos meses, 80 mil infractores. Ou
seja, 80 mil cidadãos que se locupletaram indevidamente com quantias que não
lhe eram devidas, pagas por todos nós. Baixas fraudulentas, gente a receber
subsídio de desemprego, enquanto trabalha noutro local, ou está a gerir o seu boteco.
Portugal é o país onde pessoal ligado à saúde se reúne em
organização mafiosa para perpetrar diversos crimes, lesando o SNS que,
supostamente, está a servir.
Portugal é o país onde o dono de um banco oferece ao PR a
oportunidade de ganhar dinheiro como nenhum outro cidadão, leva o banco à
falência e, enquanto os portugueses pagam os prejuízos, continua a viver como
um nababo à espera que os crimes prescrevam.
Portugal é o país do Dias Loureiros, do Oliveira e Costa e
do Duarte Lima, amigos de um PR que comete perjúrio violando a Constituição da
República.
Portugal, meu Deus, é o país onde o Relvas é ministro e um Coelho
ocupa o cargo pago por todos os cidadãos, com o único objectivo de rasgar a
Constituição.
Portugal é o país onde a alta finança se move tranquilamente
em off shores, a banca está sempre sob suspeita e as gasolineiras aumentam o
preço dos combustíveis quando desce o preço do petróleo.
Resumindo: somos um país de vigaristas!
Perante este panorama, espanto-me quando vejo os portugueses obcecados e deprimidos com a ideia de um Conselheiro de Estado ser um
troca-tintas ou de um PM ter metido a mão na massa de um “outlet”.
Mas afinal não são os nossos governantes portugueses? Não
pertencem eles ao povo e à oligarquia de interesses de um Centrão que governa o pais há
mais de 30 anos, retribuindo-se favores e prebendas, partilhando
salomonicamente os cargos decisórios?
O Centrão lembra-me, com inusitada frequência, o
comportamento de duas famílias que lutam
pelo poder de uma região. Convivem alegremente nas festas de casamento entre
membros dos clãs, fazem discursos elogiando o significado daquela união, mas
vão ao funeral dos membros da família adversária com aquela doce sensação de
que ganharam mais poder com o seu
enfraquecimento.
Perdem a compostura e sacam de naifas ou revólveres, para
eliminar o adversário, no momento em que a conquista de uma posição favorável
no tabuleiro de xadrez depende de uma ida às urnas. Encarniçam-se, fazem jogo
sujo, mas unem-se para alertar os seus súbditos que a luta se limita aos dois
clãs.
Sinceramente, não tenho pachorra para tanta mesquinhez.
Estou fora deste filme, porque quando se trata de lutas de “famiglia”, prefiro
o recurso ao DVD, para ver os
requentados episódios de “La Piovra”
Parafraseando um “graffitti” na cidade do México, onde
se pode ler “Basta de realismo,
queremos promessas!”, apetece-me dizer:
Basta de telenovelas noticiosas, queremos saber o fim da
história!
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